13 de outubro, 2024

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A crise das dívidas trava o crescimento

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Dívida nova para pagar dívida velha pode ser uma péssima jogada, mas é uma das soluções encontradas por muitos brasileiros para limpar o nome ou mantê-lo fora da lista de inadimplentes. Enquanto o presidente alardeia sucesso econômico e prosperidade geral da nação, milhões de famílias tentam sobreviver com gastos mínimos, dinheiro escasso e inseguro e endividamento crescente. Muitas têm vendido bens, raspado a conta de poupança ou buscado empréstimos caros para liquidar as contas mais urgentes. O mercado de trabalho está um pouco melhor que no primeiro semestre e, além disso, a transferência oficial de renda, fortalecida na disputa eleitoral, está um pouco mais generosa. Mas essas mudanças foram insuficientes para conter o endividamento e a inadimplência.

A parcela de famílias endividadas cresceu de 79% para 79,3% entre agosto e setembro, segundo pesquisa mensal da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Um ano antes estava em 74%. No caso das famílias com dívidas em atraso, o aumento em um mês foi de 29,6% para 30%. O endividamento se manteve em 75,9% entre as famílias com renda mensal superior a 10 salários mínimos. Entre aquelas com ganho inferior a esse padrão a parcela das endividadas passou de 79,9% para 80,3%, superando pela primeira vez a marca de 80%.

Dívidas de cartões de crédito são de longe as mais numerosas, 85,6% do total. Em segundo lugar aparecem os carnês, com 19,4% do número dos débitos. As mulheres são as pessoas mais endividadas no cartão de crédito e no cheque especial.

A busca de novos empréstimos para cobrir dívidas vencidas ou com vencimento próximo pode ser muito arriscada. É mais difícil obter crédito de grandes bancos, em geral mais cautelosos. Instituições menores podem ser mais acessíveis, mas cobram juros maiores, advertem especialistas do setor financeiro.

O endividamento e as dificuldades de milhões de famílias são um entrave a mais ao consumo e, portanto, ao crescimento econômico. Em agosto as vendas do comércio varejista recuaram 0,1%, acumulando três meses de taxas negativas. Em 12 meses o volume vendido foi 1% menor que no período anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de baixarem a qualidade de vida, os problemas financeiros das famílias limitam a atividade industrial e retardam o retorno ao desenvolvimento.

Mais que uma iniciativa humanitária de alcance restrito, um esquema de apoio aos endividados, inadimplentes ou em risco de inadimplência pode ser uma ação eficaz de política econômica. Um programa de renegociação com suporte oficial e juros baixos pode ser a resposta, mas, de toda forma, especialistas em finanças têm certamente condições de propor uma solução adequada. Entidades do setor privado têm experiência nessa área. Não haverá solução duradoura sem criação de empregos e elevação dos ganhos familiares, mas acionar a economia para criar empregos será mais difícil, se tantas famílias continuarem com enormes dificuldades para consumir.

 

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