Enquanto a Americanas está em recuperação judicial e Casas Bahia e Magazine Luiza lidam com balanços pressionados, o Mercado Livre continua avançando a passos largos. No terceiro trimestre, a receita total da empresa no Brasil cresceu 40%, com o país passando a contribuir com mais de 50% do faturamento do grupo.
No total, o grupo varejista viu sua receita crescer 39,8%, para US$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre, com um salto de 66% no México e de 22% na Argentina, além dos 40% do Brasil. Esse bom desempenho do varejo e do braço financeiro, o Mercado Pago, levou o Meli a um novo recorde de resultado operacional, que mais do que dobrou pelo quatro trimestre consecutivo e chegou a US$ 685 milhões. Com isso, o lucro líquido avançou 178,2%, para US$ 359 milhões.
“As linhas de custo crescem, mas o negócio cresce de forma muito mais acelerada”, diz André Chaves, vice-presidente sênior de desenvolvimento corporativo estratégico do Mercado Livre. A empresa encerrou o período com um caixa de US$ 3,25 bilhões.
No Brasil, o terceiro trimestre foi um período para o grupo ficar mais “confortável” com concessão de crédito. A inadimplência em 90 dias, principal indicador de perda, ficou estável. Ainda assim, a empresa também adotou um provisionamento mais conservador, explica Chaves. Em toda a América Latina cresceu 22,6%, para US$ 3,4 bilhões.
No Brasil, conta o VP, grande parte do aumento veio da emissão de cartões de crédito, sendo que o Mercado Pago tem aumentado sua participação entre grupos de faixa de renda mais altas, acima de R$ 5 mil mensais.
O volume total de pagamentos (TPV) fora da plataforma do Mercado Livre cresceu em 41,9% no Brasil e, na operação global, o TPV do Mercado Pago chegou a US$ 47,3 bilhões pela primeira vez, um crescimento de 46,9%. Dos países em que atua, a Argentina tem sido um destaque da fintech, com a conta digital, com rendimento, ganhando penetração em meio ao cenário hiperinflacionário.
Ainda assim, foi a operação de varejo que mais se destacou, em especial no Brasil. Aqui, o crescimento de 27% nos itens vendidos foi o maior em dois anos, indicando ganho de participação de mercado e ajudando a diluir as despesas da operação. As vendas brutas (GMV, na sigla em inglês) cresceram 37,5% no país. No total da operação de varejo, o GMV do Mercado Livre foi de US$ 11,3 bilhões, alta de 31,8%. A receita líquida do negócio de varejo aumentou 45,2%, para mais de US$ 2,1 bilhões.
Em setembro, a empresa foi aprovada para o programa Remessa Reversa, ficando isenta de impostos federais na importação de itens até US$ 50. “Nos abre uma oportunidade”, diz Chaves, mas a companhia não pretende seguir alguns dos concorrentes que não têm repassado ao valor final para o consumidor a alíquota de 17% dos impostos estaduais.
“Esse rebate de 17% coloca eles no lugar de não ter rentabilidade”. No Mercado Livre, o foco de importações segue sendo no México, onde esse tipo de produto já corresponde a 10% das vendas. “O produto local, na maioria das vezes, é mais vencedor.”
Por aqui, o crescimento do e-commerce é apoiado pelos investimentos em tecnologia e logística, destaca o diretor de relações com investidores, Richard Carthcart. “Nosso maior grupo de engenheiros hoje está na logística, o que nos torna mais competitivos”, argumenta ele.
Dos itens vendidos, mais de 94,2% foram entregues por meio da rede gerenciada do Mercado Livre — sendo 48% dos envios via modelo fulfillment, um novo recorde acima dos 40% registrados no mesmo trimestre do ano passado. E do volume geral de mercadorias, 78,3% foram entregues em até 48 horas, na região, e cerca de 54% no mesmo dia ou no dia seguinte à compra.
Neste ano, a ação de Meli, negociada na Nasdaq, acumula alta de mais de 50%, cotada a US$ 1.243,66.
Repórter Exame IN
https://exame.com/exame-in/a-crise-do-varejo-passa-longe-de-novo-do-mercado-livre/
Comentários