16 de fevereiro, 2025

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A desaceleração chegou

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Com recuo de 0,8% em agosto, a atividade pode ter dado o sinal de que “a esperada desaceleração da economia chegou”, disse a pesquisadora Juliana Trece, coordenadora do Monitor do PIB-FGV, a mais detalhada prévia das contas nacionais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve retração da indústria e dos serviços, do lado da oferta, e do consumo familiar, do lado da demanda. Dada a importância do consumo na boa evolução dos negócios no primeiro semestre, a contenção dos gastos familiares, em agosto, pode apontar um crescimento econômico mais modesto na segunda metade do ano. Juros altos já haviam sido apontados pelo Monitor, segundo lembrou a economista, como um provável fator de enfraquecimento econômico.

No trimestre móvel findo em agosto o PIB foi 3,3% superior ao de um ano antes, repetindo a diferença estimada para os três meses até julho. Entre os dados positivos, vale um destaque: o aumento do valor investido em máquinas, equipamentos e construções, medido como formação bruta de capital fixo. No trimestre móvel até agosto esse montante foi 2,3% maior que o de igual período de 2021. Em agosto, o total investido nesses meios de produção equivaleu a 20% do PIB, superando com alguma folga a média de todos os meses a partir de janeiro de 2000 (18%).

Tendo caído nos oito trimestres anteriores, o conjunto de máquinas e equipamentos voltou a crescer, principalmente por meio de importações. Essa expansão pode ser atribuída à melhora das expectativas empresariais, apesar do fraco desempenho da indústria, à urgência de substituir meios de produção muito desgastados ou desatualizados ou, talvez, a uma combinação desses fatores.

A taxa básica de juros, há vários meses mantida em 13,75%, tem sido usada pelo Banco Central principalmente como instrumento de combate à inflação. Juros altos, no entanto, são dificilmente evitáveis quando as taxas são elevadas nas grandes economias, como os Estados Unidos e a zona do euro, e quando há muita insegurança entre os investidores. Essa insegurança, refletida em forte valorização do dólar e em pressões inflacionárias, tem sido frequentemente associada, no País, a incertezas sobre a evolução das contas do governo e da dívida pública.

Incertezas desse tipo afetarão os mercados neste fim de ano e nos meses seguintes, se investidores e empresários continuarem sem saber como as contas federais serão administradas a partir de janeiro. Candidatos à Presidência prometem manter o Auxílio Brasil em R$ 600, acenam com revisões tributárias e mostram disposição de abandonar ou flexibilizar o teto de gastos, sem explicar como tentarão garantir o equilíbrio fiscal. Benefícios concedidos neste ano, já se sabe, afetarão as contas federais em 2023, seja quem for eleito. É muito difícil, diante desses dados, apostar numa redução rápida dos juros, essencial para a dinamização econômica. Ao negligenciar a questão fiscal, os candidatos jogam contra sua promessa de prosperidade sustentável nos próximos anos.

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