Balão utilizado em área remota da Nova Zelândia para proporcionar internet sem fio com velocidade 3G – Jon Shenk – 9.jun.13/Reuters
Pessoas com conexão à internet obtêm uma imensidão de vantagens
21.jun.2018
Poucas coisas são mais esperadas no mercado digital do que o relatório anual da analista americana Mary Meeker. Sócia da Kleiner Perkins, uma empresa de capital de risco, ela analisa o que acontece com a economia e com os hábitos por causa do impacto tecnológico.
Os dados das quase três centenas de páginas da edição de 2018permitem concluir que só vai aumentar a já imensa distância entre as duas metades da humanidade: a que está conectada à internet e a que não está.
Os de fora têm cada vez mais dificuldade para entrar. O crescimento da rede desacelerou bruscamente, até porque há muita confusão sobre quem deveria pagar a expansão. “Tem sido mais difícil crescer após ultrapassada a penetração de 50% do mercado”, diz Meeker. Decorrência disso, 2017 foi o primeiro ano em que não aumentou o número de smartphones levados ao mercado.
Quem está dentro tem uma vida cada vez mais digital e obtém uma imensidão de vantagens. Um exemplo é o mercado de trabalho. Meeker perfila-se ao lado dos que acreditam que a tecnologia tem impacto benéfico. Argumenta além da questão quantitativa: diz que a internet facilita trabalhar como freelancer e que tais profissionais mantêm ritmo de aprendizado mais acelerado, além de poderem escolher quando e onde querem trabalhar —como ocorre com os motoristas da Uber.
No caso dos dados, o ouro digital, existe um paradoxo da privacidade. As pessoas não querem ver suas informações exploradas, mas o uso delas aumenta sua satisfação. Não só isso: os dados abrem caminho para reduzir custos como os com saúde.
O mundo de oportunidades discutidas por Meeker, vale lembrar, aplica-se apenas a metade dos humanos. Ela passa ao largo do aspecto da cidadania, mas não é difícil derivar até ele discussões como as que levanta, começando pelo acesso à informação. A bola de neve contra os mais pobres ficou ainda mais brutal, e os incentivos para detê-la não estão sendo suficientes.
Roberto Dias
Jornalista, é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998.
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