Por Notas & Informações
A desaceleração da economia começou a pesar no mercado de trabalho. Depois de cair por seis trimestres consecutivos, o desemprego ficou estável em 8,4% no trimestre encerrado em janeiro, ante 8,3% no trimestre até outubro, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. A taxa de desocupação, no entanto, subiu em relação aos 7,9% registrados no trimestre encerrado em dezembro.
Embora seja um comportamento esperado para esta época do ano, outros dados do levantamento indicam certa perda do dinamismo que marcou 2022. A taxa de participação, indicador que mostra a relação entre as pessoas na força de trabalho e a população em idade para trabalhar, foi de 62%, ainda abaixo do nível pré-pandemia. Em outras palavras, o desemprego só não aumentou porque havia menos pessoas em busca de ocupação, resultado de uma combinação entre a baixa geração de vagas e a expansão do alcance e dos benefícios pagos por programas sociais nos últimos anos.
A tendência é que o desemprego volte a subir ao longo dos próximos meses, muito em razão do baixo crescimento econômico e do atual nível dos juros. Mas ao menos um importante indicador na Pnad Contínua apresentou um comportamento bastante positivo. O rendimento médio real dos trabalhadores teve alta de 1,6% no trimestre encerrado em janeiro na comparação com o trimestre até outubro, para R$ 2.835,00. E em relação ao mesmo período do ano passado, o avanço foi de 7,7%.
A renda continua baixa e inferior ao período pré-pandemia, quando estava em R$ 2.857,00, mas subiu pelo terceiro trimestre consecutivo. Porém, ao contrário do nível de emprego, o rendimento apresenta uma tendência de recuperação ao longo dos próximos meses. Os economistas apontam o aumento do salário mínimo e o reajuste dos servidores públicos como fatores importantes a influenciar este comportamento, mas a inflação mais baixa tem tido papel preponderante para este resultado.
Não é coincidência que o rendimento médio mensal dos brasileiros tenha tido o menor patamar dos últimos dez anos ao longo do ano de 2021. Mais do que consequência do aumento do desemprego e da baixa qualidade dos postos de trabalho criados na pandemia de covid-19, foi nessa mesma época que o IPCA superou os 10% no acumulado em 12 meses. A relação entre a renda e a variação da inflação é muito clara. Se os preços sobem demais, os salários podem até aumentar, mas os reajustes anuais não conseguem compensar a corrosão do poder de compra dos trabalhadores. Além disso, essas negociações não costumam atingir os autônomos, uma parcela relevante do mercado.
Por tudo isso, a recente recuperação do rendimento, ainda que tênue, reforça a importância do controle da inflação e da vigilância atenta do Banco Central (BC). O controle da inflação traz benefícios para o País como um todo, mas principalmente para os trabalhadores e a parcela mais vulnerável da população. Para consolidar esse quadro, falta agora uma âncora crível e uma política fiscal mais austera por parte do governo.
https://www.estadao.com.br/opiniao/a-recuperacao-da-renda-do-trabalhador/
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