Da esq. para a dir., Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) – Paulo Whitaker/Reuters; Marcos Leoni/Folhapress
Candidatos precisam administrar expectativas para que próximo governo não assuma com crise
17.set.2018
Qualquer candidato a presidente precisa ter consciência de que o sucesso de seu governo dependerá do bom manejo de receitas e despesas, além de condições favoráveis para o financiamento da crescente dívida pública.
Ainda em campanha, todo postulante deve fazer um exercício prático, ainda que simulado, de administração —explicar ao eleitorado como pretende lidar com o principal desafio de seu mandato.
Este será, necessariamente, o enorme déficit orçamentário, que torna necessário recorrer a dinheiro emprestado até para os gastos cotidianos como salários, aposentadorias, Bolsa Família, material escolar, água e luz.
Os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas ao menos reconhecem o problema, em graus variados. Sem exceção, entretanto, todos têm se mostrado vagos ou pouco realistas ao explicar como pretendem enfrentá-lo.
Não bastam juras de austeridade ou metas ambiciosas de resultados. Há que expor uma estratégia factível, a começar pela viabilidade política; cumpre detalhar o que fazer quanto aos temas fundamentais da reforma da Previdência e do reajuste do salário mínimo.
Não há perspectiva, por ora, de que as contas se reequilibrem antes de 2021. Calcula-se rombo de R$ 139 bilhões no próximo ano, mesmo sem considerar os encargos de uma dívida em expansão diária.
Já é evidente, desde agosto, a alta das taxas de juros no mercado, o que tende a encarecer no futuro os financiamentos aos setores público e privado.
Em parte, o aperto se deve a tensões variadas na economia mundial. A elas se somam, porém, as incertezas domésticas, o que se manifesta de forma mais visível na elevação das cotações do dólar.
A indefinição dos presidenciáveis —quando não planos desinformados, ideologias escolares ou puras bravatas— contribui para deteriorar as condições em que vai ter início o próximo governo.
Já estão em trajetória de queda as projeções para o crescimento econômico neste ano; a se manter tal movimento, as perspectivas para 2019 serão contaminadas. Uma recaída na recessão, nesse cenário, pode se tornar hipótese plausível.
Um governante sensato administra expectativas; neste momento, o papel cabe aos candidatos. Demonstrações de racionalidade e traquejo político serão cruciais para gerir a herança a ser transmitida em pouco mais de três meses.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/09/gerir-a-heranca.shtml
Comentários