Houve um tempo, poucas décadas atrás, em que famílias com filhos surdos os escondiam numa reação de proteção às críticas da sociedade, por considerá-los fora dos padrões estabelecidos como “normais” para a época. O tempo passou e os surdos foram superando barreiras, conquistando objetivos, levando a sociedade a enxergá-los e respeitá-los, proporcionando a merecida inclusão a essa parcela da população.
Tanto que há 21 anos foi promulgada a Lei nº 10.436, que, juntamente com o Decreto nº 5.626/05, reconhecem a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como meio de comunicação objetiva e de utilização das comunidades surdas do país. A legislação levou também à adaptação dos currículos dos cursos de licenciatura, para inclusão de Libras em suas grades.
Ao mesmo tempo em que as mudanças na legislação proporcionaram a inclusão, quebrando as barreiras da comunicação entre ouvintes e surdos e, de certa forma, também do acesso ao desenvolvimento e à própria cidadania, criaram grande demanda por profissionais com formação em Libras.
A formação de profissionais deve ser realizada em cursos específicos de nível superior de Libras – tradução e interpretação. Devido à escassez de cursos específicos, outra forma de capacitar profissionais tem sido por meio de cursos de extensão e formação continuada, o que não é suficiente para suprir as carências das instituições, principalmente as de ensino.
Há pelo menos 14.500 sinais em Libras, segundo o dicionário. Para um leigo, pode parecer impossível aprender, mas os especialistas orientam que dois passos básicos são essenciais no processo: associação e repetição. Aprendendo de 10 a 20 sinais por dia, ao final de uma semana aprende-se mais de 100, o que já é bastante coisa. Aí é aumentar o vocabulário e buscar a fluência.
Um desses cursos de capacitação é oferecido pelo NURAP (Núcleo de Aprendizagem Profissional e Assistência Social), importante parceiro do Coexistir na inclusão no mercado de trabalho. Fundado pelo Rotary Club de São Paulo (Brooklin e Morumbi) em 1987, o Núcleo atua na capacitação e inclusão no mercado de trabalho e hoje em dia expandiu as atividades para a indicação de adolescentes, jovens e pessoas com deficiência para cursos e encaminhamento a vagas, inclusive os que participam da capacitação em Libras.
O NURAP sobrevive graças aos cerca de 430 parceiros (voluntários e empresas) comprometidos com a diversidade, que possibilitam que os serviços ofertados − capacitação profissional e laboral, palestras e treinamentos em diversidade, recrutamento e seleção − também ajudem outras empresas a cumprir as cotas, tanto de jovens aprendizes quanto de pessoas com deficiência.
“O número pode impressionar, mas o objetivo é sempre buscar mais apoiadores, porque as demandas só aumentam”, avalia Rosemeire Andrade, especialista em educação e gerente de Inclusão do NURAP. O público atendido pelo NURAP e suas iniciativas inclui também profissionais trans e LGBTI+, refugiados e imigrantes, povos indígenas e pessoas 45+, dentre outros.
“Os maiores desafios estão em conscientizar para uma inclusão sem discriminação e que as empresas ofereçam vagas e contratem conscientes do seu papel para a diversidade”, diz Rosemeire. “Nesse sentido, é fundamental ter intérpretes, pois assim eliminamos as barreiras da comunicação com o surdo. O NURAP possui hoje uma equipe de 5 intérpretes, além de parceiros que prestam serviços sob demanda, o que juntamente com os cursos se tornou uma fonte de renda para o Núcleo”, conclui Rosemeire.
Os milhares de sinais do dicionário de Libras são pouco para traduzir o benefício de instituições como o NURAP para a melhoria da vida das pessoas surdas. Mas o curioso é que, quando não existe um sinal específico, é possível criar. Foi assim para o sinal em Libras para a consultoria Coexistir, desenvolvido por um profissional do NURAP, e que representa pessoas de mãos dadas, unidas formando uma barreira.
“O sinal representa o propósito do Coexistir, que é atuar junto com parceiros como o NURAP para a construção de uma cultura de inclusão e respeito à diversidade humana, unindo esforços e criando uma barreira contra o preconceito e o desrespeito”, diz Maria de Fátima e Silva, coordenadora do Coexistir. Clique aqui e conheça o símbolo.
Mais informações sobre o NURAP e como apoiar: https://nurap.org.br/
Thais Abrahão – Presstalk Comunicação
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