Para 72% dos comerciantes do Centro Histórico da Capital paulista, que passa por um processo de revitalização e requalificação, as expectativas para a região são otimista.
Porém, há uma percepção de que segurança (24%), com a remoção dos usuários de drogas das ruas, e mais avanços em zeladoria (49%) são fundamentais para este progresso acontecer.
Para ajudar na reabertura de lojas fechadas na pandemia, também seria importante que os governos dessem incentivos econômicos, como redução de aluguéis (11,2%), para reimpulsionar o crescimento do comércio na região.
Estes insights fazem parte de pesquisa sobre a percepção de empresários e consumidores a respeito das intervenções anunciadas pelos governos estadual e municipal para a região central da cidade.
O levantamento, realizado pelo Orbis Instituto de Pesquisa a pedido da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ouviu 100 comerciantes da região entre 10 e 17 de abril, sendo que mais da metade (51%) é do segmento de moda (roupas, calçados e acessórios) e 52,6% são micro e pequenos negócios (com faturamento mensal até R$ 360 mil).
Para 71% deles, facilidade de acesso, visibilidade, e proximidade com outros estabelecimentos, que favorecem o alto fluxo de pessoas, são pontos a favor para manter um comércio no Centro. Assim como a diversidade de estabelecimentos para atrair clientes, importante para 38%.
Mas, para 35%, a preocupação parte do número de lojas fechadas/imóveis desocupados com a pandemia (ou que continuam fechando), e a necessidade de atrair mais estabelecimentos comerciais, bares e restaurantes para melhorar o movimento da região central. Eles destacam as compras on-line e a falta de divulgação positiva do Centro como pontos que impedem que novos negócios se instalem na região.
Para 57% dos entrevistados, o aumento da frequência da realização de feiras culturais e apresentações musicais seria um incentivo a mais para impulsionar esse processo.
Quando a abordagem muda para as políticas públicas e incentivos fiscais direcionados ao Centro, como os anunciados recentemente pela Prefeitura e o Governo do Estado, a percepção se divide: para 31%, não estão sendo eficazes, enquanto para 27%, melhorou um pouco.
Já a percepção específica sobre segurança aponta que, para 68%, houve alguma melhora. Porém, 21% dos entrevistados relataram policiamento insuficiente, já que algumas áreas enfrentam problemas significativos de segurança, como a presença de pessoas em situação de vulnerabilidade social ou de usuários de drogas.
PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR É SEMELHANTE
A ACSP e o Orbis realizaram outra pesquisa sobre o Centro simultaneamente para entender a visão de 502 transeuntes (ou potenciais consumidores) sobre a região, que circularam na confluência entre as ruas São Bento e Direita no mesmo período que a pesquisa anterior.
Do total, 76% dos entrevistados frequentam a região por motivos de trabalho, enquanto 10,6% vão para fazer compras e 6% para lazer. Entre as atividades preferidas estão compras (24,1%), quesito que, se somado à ir para a 25 de Março chega a 30%, centros culturais (15,7%) e bares e restaurantes (12,7%). No total, 51% circulam e consomem na região diariamente.
A visita ao Centro para comprar é a maior da amostra entre os entrevistados acima de 65 anos, que representam 23,8% em comparação com 9,4% (em média) do restante dos respondentes, movidos por um certo ‘saudosismo’ pela região. Mas, para 40,4% da amostra, o principal fator que leva a escolher o Centro para compras e serviços é variedade e preço.
No recorte sobre a frequência no Centro por motivos de trabalho e faixa de renda, 78,1% dos entrevistados nesse perfil ganham entre 1 e 2 salários mínimos. Já os frequentadores com as maiores faixas de renda (acima de 10 salários mínimos) são os que menos vão à região com esse objetivo. Porém, o grupo também representa um percentual alto: 66,7%.
Aqui, também há uma grande diferença entre os que apreciam bares e restaurantes (28%), e entre quem prefere compras e centros culturais (7,5%). Para os primeiros, a principal faixa de renda é de 6 a 10 salários mínimos, pela conveniência de estar próximo ao trabalho. Para 40,6%, eventos culturais seriam um incentivo a mais para ir ao Centro.
Questionados sobre o que poderia melhorar na região, dois dos três itens principais se assemelham à percepção dos comerciantes: segurança em primeiro, com 32,7% das respostas, seguida por limpeza (26,1%) que, somado à zeladoria (6,6%), empataria com segurança.
Em terceiro lugar, os consumidores entrevistados apontaram também como um quesito importante o acolhimento de pessoas em situação vulnerável (22,7%).
Quando perguntados sobre o que não gostam no Centro, no recorte por sexo, a questão da segurança parece mais relevante para as mulheres (36,4% ante 29%). Já para os homens, o incômodo é quanto à limpeza e zeladoria (29% ante 23,3%).
Perguntados sobre o que sentem falta ou gostariam que tivesse no Centro, os consumidores citaram de novo segurança como principal quesito (25,9%), seguida por zeladoria (21,9%).
Segundo Márcio Pereira, diretor de operações da Orbis, que apresentou a pesquisa, há um otimismo convergindo entre comerciantes e consumidores em relação a uma melhora significativa na segurança e na própria zeladoria da região, seja em ações de limpeza e reparos, ou nas que envolvem pessoas em situação de rua e dependentes químicos.
No levantamento, concluiu-se que há um sentimento de nostalgia, sensação entre os entrevistados de que o Centro era “melhor antigamente”, e que hoje é mais um local para frequentar por questões de trabalho. E ainda sentem esperança de que a região onde circulam pelo menos 2 milhões de pessoas diariamente retome sua vocação, e não só pela sua arquitetura ou história, mas pela diversidade cultural e facilidade de acesso.
“Mas há poucas entidades, com a ACSP e a Todos Pelo Centro, que ‘pegam o touro pelo chifre’ e participam com ações sociais e acolhimento para atrair sindicatos e outras organizações para reverter esse quadro”, afirmou, fazendo uma crítica ao poder público sobre a necessidade de se melhorar a comunicação, pois “muitas coisas não estão sendo divulgadas como deveriam.”
Para Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP, em um ambiente limpo e saudável o comércio funciona melhor, pois atrai mais pessoas. Como exemplo, ele cita o trabalho de varrição, reparos e acolhimento de pessoas vulneráveis, assim como o aumento das ações de policiamento que são realizadas diariamente pela prefeitura na Praça da Sé, Pátio do Colégio e arredores.
“Conversamos com uma vendedora da Catedral que vendia R$ 5 mil por mês quando as pessoas conseguiam chegar até lá. Hoje, ela fatura R$ 5 mil por dia”, contou. “É deixar o local transparente, fazer quem circula e trabalha sentir segurança, com lojas vendendo e o público consumindo. É esse trânsito de pessoas que vai permitir que o comércio tenha resultado”, afirmou Ordine.
O QUE ESTÁ SENDO FEITO
Para incentivar empreendedorismo, geração de emprego e renda no Centro Histórico, a ACSP criou a campanha #vemprocentro para potencializar negócios na região, com incentivos à ocupação de espaços públicos para realizar eventos culturais, artísticos e gastronômicos.
Junto com a campanha, a ACSP também tem projetos sociais: o Acolher (espaço para higiene, alimentação, lavagem de roupas e assistência social) e o Qualifica Já (de requalificação profissional em construção civil para pessoas em situação de vulnerabilidade social).
Dados da Prefeitura de SP e da Secretaria de Segurança Pública apontam que, com a atividade das câmeras do Smart Sampa (10 mil), a contratação de guardas municipais, chegando a 2,1 mil, a atuação de 1,5 mil policiais na Operação Delegada e a de 97 viaturas e 158 motos (em 2016 eram 14), os roubos caíram 63% no Centro em abril – queda de 80% ante 2022.
Além da limpeza e reparos diários, feitos mais de uma vez por dia em ruas e praças da região, as ações de zeladoria agora contam com a instalação de mais de 20 mil pontos de iluminação e 36,6 km de vias recapeadas desde o início do trabalho de revitalização, em 2023. Também foram criadas mais de 10 mil vagas de acolhimento e convivência.
Subprefeito da Sé, o coronel Álvaro Camilo, que citou dados sobre o assunto que ainda preocupa comerciantes e consumidores, afirma que a segurança se baseia em dois pilares: reduzir indicadores criminais e melhorar a percepção sobre segurança.
Um plano estratégico de zeladoria, como a Operação Centro Limpo, por exemplo, também ajuda a melhorar essa percepção. Porém, mesmo deixando claro que melhorou, falta ainda trabalhar mais a questão da comunicação, admitiu.
Para Camilo, essa é uma percepção formada pela mídia, que pode auxiliar (mas também prejudicar) o entendimento: quanto mais as pessoas se sentem seguras, mais ligam para a polícia, fazem boletins de ocorrência e olham para o espaço público querendo que melhore.
“Mas é preciso trabalhar em conjunto, envolver e comprometer a sociedade para aumentar gradativamente esse círculo virtuoso e melhorar a comunicação”, disse. “Não basta ser seguro, tem que parecer seguro. É essa sensação que precisa voltar”, completou Ordine, da ACSP.
Por esses motivos, segundo o secretário-chefe da Casa Civil municipal Fabrício Cobra Arbex, coordenador do Todos pelo Centro, milhares de empresas, que deixaram a cidade em busca de vantagens no ISS (de 5% para 2%), agora estão voltando.
Com o retorno aos 2%, mais isenção parcial de 40% no IPTU para quem já está ou pretende empreender no Centro, desde 2021 cerca de 51 mil empresas vieram/voltaram de outros Estados e municípios para São Paulo, e outras 400 mil abriram seus negócios na região, destacou.
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