Artigo – A ilusão que dribla a dura realidade

(*) Alvaro Furtado

 

O Auxílio Brasil “reforçado” de R$ 600,00 começa a ser pago pelo governo federal com hora marcada para terminar: dezembro. Um alívio para mais de 20 milhões de famílias de baixa renda que provisoriamente se afastam da miséria extrema. Aos que já se encontram nessa triste situação, na fila do osso de boi e da pele de frango, é praticamente a salvação.

Por outro lado, o governo também liberou o empréstimo consignado para esse mesmo Auxílio Brasil. É como dar com uma mão e com a outra empurrar o amigo no precipício. É pouco provável que exista uma perspectiva positiva de futuro para uma parcela pobre e superendividada da população.

Grande parte desse recurso que inundará a economia irá para o varejo de alimentos porque, afinal, todos precisam do básico: alimentação, sobretudo, nada de luxo. A apenas dois meses da eleição, o fato é que ainda que esses brasileiros consigam resolver a questão do estômago, é da cabeça que sairá o voto. E de barriga um pouco mais cheia a memória funciona melhor.

O emprego perdido, o pequeno negócio fechado, a inflação que corrói o pouco que se tem e se ganha, a falta de esperança no futuro. Reverter tudo isso já é metade de um plano de governo. O próximo presidente terá uma realidade muito dura pela frente.

E nos últimos anos muito ficou por ser feito, o que influi no cenário atual no país. Privatizações, abertura comercial, capacitação de mão de obra, avanços tecnológicos, reformas, cortes de gastos e combate à corrupção, acordos comerciais internacionais. Tudo o que poderia gerar mais emprego, desenvolvimento e renda parou no tempo.

Como dizem os especialistas, pobre não quer ajuda, e sim emprego e dignidade. Metade do valor dos auxílios deve ir para os supermercados nesses próximos meses, mas sabemos que o impacto social desses benefícios será uma conta a ser paga por toda a sociedade, por anos.

Aos supermercados fica o desafio da adaptação: buscar novos fornecedores, dar mais atenção à gestão, diminuir perdas e focar no atendimento de um consumidor combalido, excluído de algumas faixas de consumo, e com novas e urgentes prioridades.

 

Alvaro Furtado é presidente do Sincovaga-SP.