(*) Alvaro Furtado
“Não existe almoço grátis”. A famosa frase é atribuída ao economista norte-americano Milton Friedman, vencedor do Nobel de Economia de 1976. Ela significa que alguém sempre pagará por algo oferecido de graça a um terceiro.
Por analogia, quando o governo paga auxílios à população de baixa renda por conta da pandemia ou isenta ou corta impostos de determinados setores produtivos, a fim de estimular a economia, tira os recursos de alguma conta.
Trata-se de ações legítimas, não fosse o princípio da responsabilidade fiscal, em que toda despesa a mais precisa vir de uma nova receita ou da diminuição de outros gastos. Ao menos aqui, se tem uma coisa que não “dá Ibope” aos políticos é cortar despesas. Então…
O resultado é que, no cenário interno, a falta de planejamento e de respeito aos limites do orçamento há alguns anos cobram seu preço de toda a sociedade brasileira, que acaba pagando a conta, na forma de mais impostos. O quadro se agrava quando um acontecimento, como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, mexe com a atividade econômica mundial e com a cotação do petróleo.
Se a recuperação do Brasil já estava sendo prejudicada antes da guerra pela pandemia e pela instabilidade política e econômica, agora existe uma chance real de a inflação fechar o ano em até 8,5%, com juros básicos em 14%. E o baque do aumento recente dos combustíveis deve incendiar ainda mais o processo inflacionário.
Assim, não apenas o almoço, mas o transporte, a saúde, a educação estão cada dia mais caros e, pior, justamente para os mais pobres. Os itens básicos, como o gás de cozinha e os alimentos, são os que mais sofrem com a inflação e pesam no orçamento das famílias com renda menor.
Outro aspecto que encarece os produtos é o fato de o modal rodoviário ser o mais usado no país, em grande parte por caminhões movidos a diesel. Com isso, há casos em que o frete acaba saindo mais caro que a carga, e os custos são repassados aos preços. Some-se a isso a estiagem e o excesso de chuvas, dependendo da região.
Esse efeito cascata vai chegar às prateleiras dos supermercados, onde estão os itens essenciais. É possível segurar o repasse, e os varejistas fazem isso com frequência, mas toda empresa tem o seu limite.
Falta gestão ao governo federal para entender a urgência do momento e agir. Apoiar os produtores na estocagem das safras, a fim de regular os preços; abrir novos mercados, seja para importação ou exportação; investir em infraestrutura para estimular a geração de empregos; cortar despesas, não criar outras, sobrecarregando ainda mais a sociedade, são apenas algumas medidas que se fazem emergenciais.
Na situação econômica atual, a maioria dos brasileiros está entre a cruz e a espada. Poucos, privilegiados, são os que podem fazer só boas escolhas.
Alvaro Furtado é presidente do Sincovaga-SP.