15 de outubro, 2024

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Custo do desemprego de longo prazo

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A redução contínua da taxa de desemprego e a recuperação persistente da renda real média obtida pelas pessoas ocupadas são os indicadores mais marcantes da melhora notável do mercado de trabalho nos últimos meses. A persistência de altos índices de trabalho informal, de subutilização da força de trabalho e de pessoas desalentadas, de outro lado, aponta para uma perda de qualidade nessa recuperação. À margem dessas duas tendências mais notórias da evolução recente do mercado de trabalho, há outro dado mais preocupante. Um número muito grande de brasileiros busca uma ocupação há muito tempo, mas não a encontra. Mantém-se muito alta a taxa de desemprego de longo prazo. É uma espécie de doença estrutural do mercado de trabalho que o País não tem conseguido combater.

No terceiro trimestre deste ano, havia praticamente 2,6 milhões de trabalhadores que buscavam trabalho havia pelo menos dois anos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao contrário da Pnad Contínua mensal, que mostra a evolução nacional do mercado de trabalho em trimestres móveis, esta decompõe os dados pelas unidades da Federação e é elaborada a cada três meses.

Os desempregados de longo prazo representavam, no período pesquisado pelo IBGE, quase 28% do total de desocupados (9,5 milhões de trabalhadores). Não é um problema novo, pois vem se acentuando desde 2015, por causa da recessão provocada pelo desastre da política econômica da presidente Dilma Rousseff, que seria afastada em agosto do ano seguinte. É essa persistência que lhe dá a aparência de ter-se tornado estrutural.

A série estatística do IBGE mostra que, no terceiro trimestre de 2012, por exemplo, havia 1,46 milhão de trabalhadores desempregados que procuravam uma ocupação havia mais de dois anos, ou 21% dos desempregados. O número, bem como sua fatia entre o total de desocupados, baixou até 2015, quando passou a subir. Em 2018, os desempregados de longo prazo somavam 3,2 milhões de trabalhadores, ou 25,4% do total de desocupados. No terceiro trimestre do ano passado, eram 3,89 milhões de pessoas, ou 28,9% do total de desempregados.

Nota técnica da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia elaborada em agosto do ano passado mostra que os desempregados de longo prazo representavam 1,2% da força de trabalho em 2014 e atingiram 3,2% em 2019. O grupo é formado predominantemente por mulheres, jovens e com ensino médio completo.

Além de ser fonte de um problema humanitário sintetizado no fato de uma pessoa em idade de trabalhar e apta para ter uma ocupação não ter a possibilidade de auferir renda para si e para sua família, o desemprego de longo prazo tem consequências econômicas de peso. Quanto mais tempo uma pessoa fica desempregada, maior será a perda de capital humano, pois habilidades e capacidade para aprendizado de tarefas novas podem ser perdidas e menores serão as chances de sua recolocação no mercado.

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