15 de outubro, 2024

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Da incerteza ao desemprego

Escassez de vagas assombra milhões de famílias.

 

Num ambiente de muita incerteza política e insegurança de empresários e consumidores, o desemprego atingiu 12,9% da força de trabalho no trimestre encerrado em abril, com 13,6 milhões de pessoas em busca de ocupação. O Brasil saiu da recessão há pouco mais de um ano, mas a escassez de vagas continua assombrando milhões de famílias, enquanto a crise política entrava o funcionamento da economia. Os novos dados mostram uma piora em relação ao período de novembro a janeiro, base de comparação usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando a desocupação ficou em 12,2% da população ativa, com 12,7 milhões de pessoas procurando um meio de sobrevivência.

A insegurança refletida nesses números é anterior – é importante lembrar – à turbulência causada pela paralisação do transporte rodoviário e pelas pressões por mudança da política econômica. Essas pressões, em grande parte assimiladas pela Presidência da República, põem em xeque o esforço de arrumação das contas públicas programado para este ano. Se a política de ajuste descarrilar, a recuperação da economia estará comprometida e as perspectivas para os próximos anos ficarão excepcionalmente sombrias.

Especialistas do mercado perceberão esse fato mais prontamente que a maioria dos consumidores, mas esse descompasso fará pouca diferença: o próximo governo herdará um desastre.

As expectativas de empresários e consumidores começaram a piorar no primeiro trimestre. O desemprego resistente é um reflexo dessa mudança de humor. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) recuou em maio pelo segundo mês seguido e chegou a 92,8 pontos. Este foi o menor nível desde novembro de 2017, quando o indicador bateu em 92,1 pontos. As informações foram coletadas até dia 23. Não foram captados, portanto, os efeitos da greve dos transportadores. Os desdobramentos políticos e econômicos desta crise poderão, segundo o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV, Aloísio Campelo, levar a uma piora das expectativas. O efeito será registrado em junho.

Também está baixo o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O indicador ficou estável de abril para maio, em 102,2 pontos, pouco acima da linha de indiferença, mas 5,2% abaixo da média histórica. Em relação a maio de 2017 houve queda de 1,6%.

Este parece um dado especialmente significativo, porque naquele momento a economia apenas havia superado a recessão de dois anos e os sinais de reativação ainda eram muito discretos. Expectativas mais baixas que as de um ano atrás podem ser, portanto, um importante sinal de alerta, especialmente porque o consumo das famílias tem sido um dos principais motores da recuperação da economia.

A piora do humor dos consumidores ajuda a entender um detalhe importante da nova pesquisa de emprego. O mau resultado, como assinalou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, foi puxado pelas demissões no comércio. O setor eliminou 439 mil vagas em relação à base de comparação, o trimestre de novembro a janeiro. Foi uma redução de 2,5%. Pelo mesmo confronto, a população ocupada teve uma redução de 969 mil pessoas, ou 1,1%. Nenhum dos grupamentos de atividades teve aumento de contratações no período encerrado em abril. Os de melhor desempenho apenas mantiveram, com variação pouco significativa, o contingente empregado. Foi o caso da indústria geral, com 11,6 milhões de empregados no trimestre encerrado em abril.

A recuperação de emprego do ano passado “está-se desfazendo, inclusive com aumento da população fora da força de trabalho”, comentou Cimar Azeredo. O desemprego ainda é menor que o de um ano atrás, quando a taxa alcançou 13,6%. Mas as palavras do técnico do IBGE são uma advertência da máxima importância. Políticos ainda capazes de pensar no interesse público – quantos haverá em Brasília?– levariam muito a sério esse alerta. O Estado de S.Paulo.

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