16 de outubro, 2024

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Desafios de um mundo mais velho

Notas&Informações, O Estado de S.Paulo

Talvez soe assustador que, em apenas 12 anos, a população mundial tenha passado de 7 bilhões para 8 bilhões de pessoas, marca que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), foi atingida no dia 15 de novembro. Se se lembrar que foram necessários 112 anos para que o total de habitantes do planeta passasse de 1 bilhão para 2 bilhões de pessoas, a expansão observada agora parece ainda mais preocupante. Temores com relação à escassez de alimentos, esgotamento de fontes naturais, degradação do meio ambiente e aumento da pobreza tendem a se acentuar. São problemas reais, alguns agravados nos últimos anos, mas nem tudo está piorando na velocidade temida.

Há mudanças notáveis, e de grandes consequências para o futuro, no padrão de evolução da população mundial. A bomba da explosão demográfica foi desativada, diz estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o assunto. A taxa de crescimento da população vem declinando desde a metade do século passado e deve continuar a diminuir no futuro. Projeções da ONU indicam que o número de países cuja população diminuirá, hoje em 41, chegará a 88 em 2050. A nova lista inclui a China, que, em algum momento nos próximos 50 anos, será superada pela Índia como o país mais populoso do mundo.

Desafios antigos, obviamente, permanecem. Desigualdade de gênero, persistência da pobreza extrema em regiões da África e disparidades na taxa de fecundidade de acordo com o grau de desenvolvimento dos países persistirão nos anos próximos.

Mas um novo desafio demográfico tende a ocupar o centro das preocupações dos dirigentes nacionais. Trata-se do envelhecimento da população.

O estudo do FMI mostra que, em meados da década de 1940 – quando foram criadas instituições multilaterais como a ONU, a Organização Mundial da Saúde e o próprio FMI –, o número de crianças com até 15 anos correspondia a 7 vezes a população com mais de 65 anos; em pouco mais de 30 anos, os dois grupos terão o mesmo número de pessoas. A expectativa de vida no mundo, de 34 anos há pouco mais de um século, hoje é de 72 anos. E continuará aumentando. Já a taxa de crescimento populacional, de mais de 2% ao ano na década de 1960, está abaixo de 1%. Mesmo na Índia ela tende a diminuir, da média de 0,8% ao ano entre 2000 e 2020 para 0,7% nos próximos 20 anos.

É dessa combinação que resulta o aumento da proporção de idosos na população mundial. É uma mudança, diz o estudo do FMI – assinado pelos professores da Universidade Harvard David E. Bloom e Leo M. Zucker –, que pressagia imensos desafios para as áreas de saúde, políticas sociais e economia nas próximas décadas. Haverá mudanças no estilo de vida das pessoas, nos investimentos públicos e privados, na evolução e uso da tecnologia.

“As consequências potenciais da inação são dramáticas: uma força de trabalho em redução pressionada a suportar um número crescente de aposentados, a concomitante explosão de morbidades ligadas ao envelhecimento e dos custos com os sistemas de saúde e a redução da qualidade de vida dos mais velhos por perda de fontes de apoio humanas, financeiras e institucionais”, adverte o estudo do FMI.

Se há um aspecto favorável nessas mudanças é o fato de elas serem previsíveis, tanto em sua direção como em seu ritmo. Isso cria a oportunidade para que os responsáveis pelas ações destinadas a amortecer os impactos econômicos, sociais e de saúde do envelhecimento da população mundial disponham de tempo para se organizar, planejar e executar.

Pode-se, ao mesmo tempo que se fortalecem os mecanismos de atendimento de saúde, desenvolver outros que dotem as pessoas de maior capacidade de trabalho, de modo que elas atinjam graus mais elevados de produtividade. O funcionamento adequado das regras de trabalho e do mercado de capitais é vital para o êxito de programas como esses. Já os investimentos em infraestrutura devem, obviamente, estar voltados para a criação de espaços mais saudáveis e adaptados aos idosos.

São novas necessidades que se somam às muitas outras que podem fazer o mundo melhor.

Foto: Tiago Petinga/EFE

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