14 de outubro, 2024

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Descontrole

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Ao ouvir o ministro da Saúde, Nelson Teich, um cidadão desavisado ficará apreensivo. Parece que uma pandemia sem precedentes neste século está prestes a irromper e o Brasil poderá ser atingindo em cheio. Portanto, seria bom reunir todas as informações disponíveis sobre o novo patógeno e preparar o País para uma emergência sanitária antes que seja tarde demais.

“Perdido”, como o avaliam secretários estaduais de Saúde, parlamentares e autoridades do Sistema Único de Saúde (SUS), Nelson Teich é o retrato de um governo que deliberadamente abdicou de sua responsabilidade de coordenar as ações de enfrentamento da pandemia de covid-19 no País. A sociedade não reconhece mais uma voz nacional de comando nessa missão. E quando uma palavra emana de Brasília, em geral, é para se contrapor às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), de governadores, prefeitos e da comunidade científica.

O descontrole da epidemia do novo coronavírus no Brasil – já são mais de 125 mil casos confirmados e cerca de 8,6 mil mortes – preocupa países vizinhos. Em entrevista a uma rádio, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o assunto tem sido tema recorrente de suas conversas com os presidentes do Chile, Sebastian Piñera, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou. “Já falei com Piñera e Lacalle. É claro que o Brasil representa um risco (para a região)”, disse o presidente argentino.

A preocupação de Fernández não é despropositada. Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro tem se contraposto com especial disciplina à recomendação de isolamento social como única medida eficaz para conter o avanço do novo coronavírus e preservar a capacidade de atendimento dos hospitais até que uma vacina esteja disponível. “Eu não entendo como (o governo brasileiro) age com tanta irresponsabilidade”, disse o presidente argentino. “O Brasil faz fronteira com toda a América do Sul, menos com Chile e Equador. Na Argentina, entram muitos caminhões brasileiros que vêm de São Paulo, que é o lugar mais infectado do Brasil”, disse Alberto Fernández à Rádio Con Vos. Procurado pelo Estado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não respondeu aos pedidos de entrevista, para esclarecimentos.

Diante do “apagão” federal, em que pesem os valorosos serviços de abnegados servidores do Ministério da Saúde, governadores e prefeitos de todo o País tomaram as rédeas da situação – com respaldo na Constituição, como decidiu recentemente o Supremo Tribunal Federal – e têm adotado as medidas que julgam necessárias para proteger a saúde de seus governados. Em São Paulo, o governador João Doria assinou um decreto que torna obrigatório o uso de máscaras em todos os locais públicos do Estado. Quem descumprir a norma, que já está em vigor, está sujeito a multas que variam de R$ 276 a R$ 276 mil, além de um a quatro anos de detenção. Na capital paulista, o prefeito Bruno Covas anunciou um novo esquema de rodízio de veículos na cidade com o objetivo de aumentar a adesão ao isolamento, que nos últimos dias raramente tem ultrapassado a taxa de 50%, o mínimo aceitável para espaçar o número de contágios.

Observada a forma correta de utilização, higiene e acondicionamento, a máscara é um meio eficaz para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, como alguns estudos publicados recentemente atestaram. O rodízio de veículos poderá levar as pessoas que trabalham em serviços essenciais e precisam sair de casa a procurar o transporte público ou os serviços de carro por aplicativo, o que certamente aumenta o contato interpessoal. Crê-se que a Prefeitura tenha estudos que indiquem que os ganhos serão maiores do que os eventuais riscos trazidos pelo novo sistema.

As ações do poder público, nas três esferas de governo, são fundamentais para que o País sofra o menos possível ao atravessar as angústias de uma pandemia desta magnitude. Mas, ao fim e ao cabo, está nas mãos de cada cidadão a responsabilidade de proteger a si, seus familiares, amigos e concidadãos, respeitando o isolamento social. No momento, qualquer flexibilização da quarentena tem potencial para produzir danos irreparáveis.

 

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