Notas & Informações, O Estado de S. Paulo
10 de julho de 2020
Quando a pandemia atingiu o Brasil, a desocupação no País já estava bem acima dos padrões internacionais. No fim do ano a economia poderá estar mais ativa em todo o mundo, mas no Brasil as condições do emprego continuarão, quase certamente, muito piores que na maior parte dos países. No cenário mais pessimista, com uma segunda onda de covid-19, a média do desemprego poderá chegar a 12,6% no quarto trimestre de 2020, nos 37 países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo a nova projeção da entidade. No Brasil, projeções correntes apontam níveis próximos de 15%, talvez superiores, e com enormes taxas de informalidade e de subutilização de mão de obra.
Diante das incertezas criadas pela pandemia, economistas da OCDE desenharam dois cenários econômicos, apresentados como igualmente prováveis neste momento. Num deles, a economia mundial encolherá 6% neste ano. Nesse caso, o desemprego nos países da organização estará em 9,4% no trimestre final de 2020. No outro, o produto bruto global será 7,6% menor que o de 2019 e o ano terminará com a desocupação em 12,6%, quatro pontos acima do pico alcançado na crise financeira de 2008-2009.
Com o surto de covid-19, o desemprego nos países da OCDE subiu de 5,2% em fevereiro para 8,5% em abril e recuou para 8,4% em maio. No Brasil, o fraco desempenho da economia, com crescimento de apenas 1,1% no ano passado, manteve condições de emprego muito ruins até o começo de 2020. Havia 11,6% de trabalhadores desocupados no trimestre móvel terminado em fevereiro. Era mais que o dobro da taxa média registrada nos países da OCDE. Sem o vírus, o quadro econômico e social do País já era especialmente dramático.
O surto de covid-19 bateu forte na economia brasileira a partir da segunda quinzena de março. O impacto foi muito maior em abril. No trimestre de março a maio a desocupação chegou a 12,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a taxa de desocupação mostra apenas uma parte de um quadro muito mais feio que o encontrado no mundo rico e na maior parte das grandes economias emergentes.
Os desempregados eram 12,7 milhões no trimestre móvel terminado em maio, de acordo com os dados oficiais. Mas o número dos desalentados – 5,4 milhões desanimados de buscar emprego – foi um novo recorde. Também recorde foi a população subutilizada (30,4 milhões). Este conjunto inclui, entre outros componentes, o grupo dos trabalhadores ocupados por um número insuficiente de horas. Além disso, pela primeira vez o contingente ocupado correspondeu a 49,5% da população em idade de trabalhar. A porcentagem nunca havia sido tão baixa desde 2012, quando foi iniciada a pesquisa com as características atuais.
Esse último recorde negativo foi mantido, com pouca variação, até o meio do mês passado. Na segunda semana de junho havia 170 milhões de pessoas em idade de trabalhar, mas apenas 83,5 milhões estavam ocupadas. Eram 49% do total, parcela praticamente igual à da primeira semana de maio.
Dados ligeiramente positivos foram anunciados terça-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em junho, o Indicador Antecedente de Emprego subiu 14 pontos e atingiu o nível de 56,7. Com isso, recuperou em dois meses um terço da perda de março-abril. Mas o resultado é o terceiro mais baixo da série histórica. Ainda em junho, o Indicador Coincidente de Desemprego caiu 2,2 pontos, para 97,4, apontando um quadro melhor que o de maio. Mas esses dados apenas confirmam uma avaliação corrente: o pior ficou para trás. Não apontam, ainda, condições muito melhores que aquelas estimadas até agora. As projeções correntes no Brasil apontam para este ano uma contração econômica em torno de 6,5%.
No Brasil, a taxa média de desemprego ficará em 18,7% neste ano, segundo estimativa recente da FGV. Logo, os números mensais ainda poderão piorar. Bastará que alguns milhões dos atuais desalentados voltem às filas em busca de vagas. Não se conhece, ainda, um plano do governo para reduzir essas filas.
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