07 de dezembro, 2024

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Do tombo ao risco eleitoral

Notas & Informações, O Estado de S. Paulo

 

Com 12,9 milhões de desempregados e 28 milhões de pessoas fora da força de trabalho, mas dizendo-se interessadas em trabalhar, o Brasil tem uma longa subida para sair do buraco onde caiu na crise da covid-19. No segundo trimestre a economia caiu 8,7% em relação ao primeiro e ficou 10,5% abaixo do nível de um ano antes, segundo o Monitor do PIB – FGV, elaborado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas. Divulgado alguns dias antes, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) havia apontado uma perda de 10,3% em relação ao primeiro trimestre. O tamanho do tombo será informado oficialmente em 1.º de setembro, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciar o Produto Interno Bruto (PIB) do período abril-junho. A estimativa da FGV é a mais detalhada e geralmente bem próxima da oficial.

Pelo Monitor, em junho a atividade foi 4,2% superior à de maio e 6,5% menor que a de um ano antes. O sinistro balanço do segundo trimestre inclui dois meses de recuperação, depois do desastre de abril. Apesar desse começo de reação, “o resultado da economia no segundo trimestre foi o pior já vivenciado pelo País desde 1980”, disse o coordenador da pesquisa, Claudio Considera.

Dois meses de reativação foram insuficientes, no entanto, para reconduzir a produção industrial ao nível de fevereiro, segundo os dados setoriais já publicados pelo IBGE. As vendas do comércio varejista voltaram àquele patamar. A atividade dos serviços, com melhora apenas em junho, continuou abaixo do padrão anterior ao choque inicial da pandemia.

Mas a reação a partir de maio estimulou a revisão das estimativas econômicas para este ano. O PIB deve encolher 5,52%, segundo a mediana das projeções da pesquisa Focus divulgada na segunda-feira passada pelo BC. Quatro semanas antes a indicação era de um recuo de 5,95% em relação ao valor de 2019. Nesse período foi mantida a estimativa de 3,50% para 2021. Para 2022 e 2023 a pesquisa continua apontando taxas anuais de expansão de 2,50%.

Esses 2,50% têm sido, há muitos meses, a mediana das projeções para os anos mais distantes. O número reflete uma avaliação do potencial produtivo. Não se fez o suficiente, em quase 20 meses de mandato do atual presidente, para justificar a expectativa de um crescimento mais rápido e sustentável.

O cenário econômico atual seria provavelmente pior, assim como as expectativas, sem as medidas emergenciais. Em junho, o consumo de alimentos e de alguns outros bens não duráveis foi 1,2% maior que o de um ano antes, segundo o Monitor. Ainda assim, o consumo das famílias no segundo trimestre foi 11,6% menor que de igual período de 2019 – resultado facilmente inteligível quando se consideram a queda de renda e a quarentena adotada por milhões.

O investimento em máquinas, equipamentos e obras, medido como formação bruta de capital fixo, ficou, no segundo trimestre, 20,9% abaixo do nível de abril-junho de 2019, mas a redução desse tipo de despesa é a mais esperada numa recessão. Falta a confirmação oficial, mas a recessão, caracterizada tecnicamente pela queda do PIB em dois trimestres consecutivos, é inegável.

Ações emergenciais atenuaram o desastre econômico, mas houve negligência no combate à covid-19. A mortandade poderia ser menor, se o governo central houvesse conduzido com habilidade e respeito à vida uma política nacional contra a pandemia. A retomada econômica também seria mais segura, com menor risco de novos surtos de contágio e de retrocesso na abertura.

O BC conserva, por enquanto, a estimativa de 6,40% de retração econômica neste ano. O Ministério da Economia reafirmou a expectativa de recuo de 4,70%. Mais desafiante é projetar os números de 2021. Há incertezas quanto à evolução das condições de saúde e nenhuma estratégia de recuperação e de consolidação econômica foi apresentada pelo governo. Ninguém pode dizer com alguma segurança, enfim, se o presidente Jair Bolsonaro apoiará a arrumação das contas públicas ou se atropelará a responsabilidade fiscal para atender os aliados e cuidar da reeleição.

 

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