Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Em carta aberta, 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central cobraram uma agenda de “recuperação verde”. Além de engrossar o coro de vozes que pressionam o governo a assumir suas responsabilidades ambientais, o documento tem especial interesse por elencar diretrizes formuladas por economistas de primeiro escalão, mostrando que a transição para uma economia sustentável, além de ser viável, pode ser lucrativa.
A Agência Internacional de Energia estima que cada US$ 1 investido na transição energética gera um retorno de US$ 3 a US$ 8, e investimentos anuais de US$ 180 bilhões nos próximos três anos podem gerar um imenso capital nos próximos 25 anos. Segundo o FMI, o PIB global pode ser impulsionado em 3,5% acima dos níveis usuais, gerando cerca de 7 milhões de empregos na construção, indústria e outros setores até 2023. De resto, pesquisas recentes apontadas pelo Fórum Econômico Mundial mostram que 7 em cada 10 pessoas acreditam que a crise climática é tão séria quanto a pandemia, e a maioria de cada país deseja uma recuperação verde.
Além do fim do desmatamento, os signatários da carta apontaram três linhas de ação: alcançar a economia de baixo carbono; aumentar a resiliência climática; e impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias. “Um passo crucial para a transição para uma economia de baixo carbono é eliminar subsídios a combustíveis fósseis.” Com efeito, o FMI estima que o fim da subprecificação dos combustíveis fósseis geraria globalmente US$ 2,8 trilhões em receitas fiscais a cada ano. Estas receitas podem ser empregadas em apoios públicos à inovação verde e investimentos-chave de infraestrutura. Dada a prioridade imediata de estabilidade econômica, o poder público pode se ver forçado a apoiar empresas envolvidas em emissão de carbono, mas este apoio deveria ser condicionado a inovações sustentáveis. O tempo é oportuno para as empresas buscarem o enquadramento em padrões internacionais de sustentabilidade. Isso ajudará a atrair o capital privado.
Assim como na recessão de 2008, os investimentos públicos em infraestrutura serão cruciais, mas deveriam ser ainda mais focados em infraestruturas sustentáveis. Estima-se que as infraestruturas de energias verdes gerem duas vezes mais empregos que as de combustíveis fósseis. De resto, “a expansão de investimentos sustentáveis, como no saneamento”, lembra a carta, “tem um impacto social tão ou mais importante que suas implicações ambientais”.
Além de integrar esforços para “reconstruir melhor” a economia global, o Brasil precisa reconstruir sua reputação. Como apontou em artigo no Estado Rubens Ricupero, um dos signatários da carta, isso exigirá uma bateria de ações bilaterais nos fóruns internacionais e institutos financeiros, como demonstrar o empenho do País em atender aos compromissos do acordo Mercosul-União Europeia; propor uma coalizão internacional de organismos financeiros e instituições privadas; apoiar a negociação de acordos sobre comércio de bens ambientais; responder às recomendações da OCDE sobre políticas ambientais; ou participar ativamente das discussões nas Cúpulas Climáticas da ONU.
“O Brasil tem evidentes vantagens como economia de baixo carbono, dada a composição de sua matriz energética, a abundante radiação solar, agricultura pujante produtora de vultosas quantidades de biomassa, recursos hídricos e florestas extensas e biodiversas”, diz a carta. “Em função de tais vantagens comparativas, é do interesse do país estar entre os líderes da transição para uma economia mundial carbono-neutra.”
Não há dúvida de que o presidente da República e alguns de seus principais correligionários no Planalto não se inclinam a reconhecer a importância da questão ambiental em si. Mas esse contratempo pode ser superado. Os dados e a pressão de investidores e dos mais destacados protagonistas da política econômica nacional das últimas três décadas bastam para mostrar que, sejam lá quais forem as convicções pessoais dos atuais governantes, o investimento em desenvolvimento ambiental é do interesse econômico do País.
Comentários