27 de março, 2025

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É o que temos para hoje

Imagem: wayhomestudio - br.freepik.com

Notas&Informações, O Estado de S.Paulo

Há três ou quatro anos, ninguém podia imaginar que um dia o mundo seria tão duramente atingido por uma pandemia de proporções desconhecidas por muitas gerações e que afetaria e, em geral, prejudicaria tanto a vida de todos. Mas já então muitos brasileiros enfrentavam muitas dificuldades que os impediam de comprar a quantidade que consideravam adequada de comida para manter suas famílias. Compravam o que sua renda lhes permitia. Mas queriam e precisavam de mais.

Naquela época, os chefes de família calculavam que precisavam gastar 66,7% mais com comidas e bebidas para alimentar adequadamente todos os moradores da casa. É o que mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018 (POF), que acaba de ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela traz o perfil mais atualizado da estrutura de gastos das famílias brasileiras com alimentação, transporte e lazer.

Comprava-se o que dava, o que a renda permitia. “Mas não era só isso o que ela (a família) gostaria”, diz a técnica do IBGE Isabel Martins. Era o que se podia ter no momento. “O que tenho (em dinheiro disponível), eu compro e como, mas não é o que gostaria de ter.”

Para muitas famílias, o que se podia comprar para o dia era insuficiente. A POF constatou que, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7% (o equivalente a 25,3 milhões) viviam com algum grau de insegurança alimentar, isto é, sem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. É um dado pior do que o de 2004, quando 34,9% dos domicílios estavam nessa situação.

No pós-pandemia, a inflação, a alta dos alimentos e a persistência de grande número de pessoas sem ocupação decerto tornaram ainda mais precárias as condições de vida de uma parte importante da população brasileira. Só se poderá saber com mais precisão a intensidade dessas mudanças daqui a algum tempo, quando forem conhecidas estatísticas deste período.

As que acabam de ser divulgadas pelo IBGE mostram um país que se modernizou em alguns aspectos, mas não conseguiu curar algumas de suas piores feridas sociais e pode ter ganhado outras.

Na edição mais recente, a POF avalia também o alcance dos serviços financeiros na população e como as famílias os utilizam. Dela, por isso, resulta um retrato amplo que mostra as contradições e complexidades do País.

POF constatou que 83,3% integravam famílias em que pelo menos um de seus membros tinha acesso a algum serviço financeiro. É, sem dúvida, um índice altíssimo de disseminação desses serviços num país tão desigual.

O principal serviço financeiro a que um membro dessas famílias tinha acesso era a conta corrente (66,2%), o que mostra o grande alcance dos serviços bancários. O segundo era a caderneta de poupança (55,9%), claro sinal da popularidade desse tipo de aplicação; 44,4% da população vivia em família com alguma pessoa que tinha cartão de crédito.

Acesso amplo a serviços financeiros está longe, porém, de indicar melhora da situação financeira das famílias. A POF constatou que 72,4% dos brasileiros viviam em famílias com alguma dificuldade para pagar suas despesas mensais. Constatou também que 46,2% da população vivia em família que tinha pelo menos uma conta em atraso. Considerando toda a população, 14,1% enfrentavam muita dificuldade para passar o mês com renda disponível. Das pessoas com renda baixa, 30% disseram que viviam com menos do que o necessário.

Ainda entre os mais pobres, como constatou a POF, um quarto da renda vinha de aposentadorias e de programas sociais. É prova da importância do sistema previdenciário e dos programas de transferência de renda para a sobrevivência dessas famílias. Outro dado surpreendente é o papel do rendimento não monetário, que são os bens e serviços que as famílias obtêm sem pagar por eles (doações, por exemplo), no orçamento doméstico. Entre os pobres, isso representa 14,5% da renda, o que parece alto num país tão bem coberto por serviços financeiros.

 

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