Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
A preservação da Amazônia passa pela educação. Não só nos Estados que compõem a Amazônia Legal, mas no Brasil inteiro é preciso assegurar que as atuais e as futuras gerações tenham clareza sobre o que está em jogo em meio à devastação que não para de crescer. Como mostrou o Estadão nos últimos dias, eis uma tarefa das escolas de todo o País: possibilitar que seus alunos conheçam, mais e melhor, a realidade da maior floresta tropical do planeta.
Conhecimento, aqui, é sinônimo de valorização. Quanto mais souberem sobre a Amazônia, mais os estudantes brasileiros agirão em sua defesa. Por isso, são bem-vindas iniciativas para fazer da Amazônia um tema transversal nas escolas do País, levando para as salas de aula as mais variadas questões relacionadas ao contexto amazônico, seja no estudo de biologia, geografia e história, seja em qualquer outro componente curricular. Igualmente válida é a proposta de criação de uma disciplina específica dedicada à Amazônia no Novo Ensino Médio.
O Brasil tem mais de 40 milhões de estudantes só na educação básica, dos quais mais de 7 milhões no ensino médio. Disseminar conhecimento sobre a Amazônia há de reforçar a conscientização e a luta pela preservação da floresta. Quem compreende a importância da Amazônia para a regulação do clima global ou para o ciclo de chuvas em outras regiões do País não fica indiferente à sua devastação. Isso passou a ser ainda mais necessário diante da completa falta de uma política ambiental digna desse nome no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Quem acompanha os dados do monitoramento ambiental da região já deve ter percebido que a área total desmatada só aumenta. A cada novo levantamento, o que varia é o ritmo de destruição − se a área devastada, no período observado, foi maior ou menor do que no período anterior. Não há dúvida, portanto, de que é preciso falar sobre o tema com os estudantes brasileiros, aprofundando a compreensão das possibilidades e dos desafios amazônicos. Isso envolve ir além das questões ambientais, como disse ao Estadão a secretária executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia, Renata Piazzon, que é também diretora do Instituto Arapyaú: “Não dá para a gente resolver o problema do desmatamento da Amazônia só olhando para agenda ambiental”, resumiu ela.
A rede reúne representantes do meio acadêmico, do poder público e da sociedade civil, entre eles o apresentador Luciano Huck, o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-presidente do banco Itaú Candido Bracher e o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. O foco é a promoção do desenvolvimento sustentável, com envolvimento direto da população local na construção de soluções. A esse propósito, vale recordar a ideia de que a floresta em pé precisa valer mais do que destruída. Esse, sim, é um caminho para conter o desmatamento.
A melhoria da qualidade do ensino nas escolas da Amazônia é outro desafio que põe a educação no centro das estratégias de valorização e preservação da floresta. Como se sabe, a Região Norte tem indicadores educacionais e sociais abaixo da média nacional, lida com populações esparsas, grandes distâncias e dificuldades de acesso. Reconhecer os saberes locais e a diversidade regional faz-se mais que necessário.
Com isso em mente, a rede Uma Concertação pela Amazônia, ao lado do Instituto Reúna e do Instituto Iungo, quer que a região, seus potenciais e seus dilemas entrem de vez no currículo do Novo Ensino Médio, por meio do projeto Itinerários Amazônicos. A intenção é começar pelas redes de ensino de Amazonas, Amapá e Roraima em 2023. Como informou o Estadão, uma boa notícia é que os conteúdos deverão ser disponibilizados para professores do País inteiro − a esse respeito, as entidades preparam um curso de formação docente sobre o tema. “Hoje não se vê isso nos livros didáticos”, observou o presidente do Instituto Iungo, Paulo Emílio Andrade. Sim, a preservação da Amazônia passa pela educação, e as escolas têm uma enorme contribuição a dar.
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