Por Eliane Cantanhêde
Numa montanha-russa, o presidente eleito Lula brilhou ao levar o Brasil de volta à liderança ambiental e à cena internacional, derrapou ao desdenhar da responsabilidade fiscal, da Bolsa e do câmbio e se reequilibrou em Portugal, ao calibrar a fala sobre contas públicas, referir-se adequadamente às Forças Armadas e, enfim, enfrentar de frente a carona em jatinho de empresário.
Na COP 27, a plateia entoou o novo hino lulista, “o Brasil voltoooou, o Brasil voltoooou”, diante de um discurso contundente e abrangente em que Lula falou para os brasileiros e o mundo e se declarou “cobrador” dos países ricos.
Anunciou o fim da mamata de grileiros, desmatadores e madeireiros ilegais da era Bolsonaro e que o combate aos crimes ambientais “não terá trégua”. E cobrou dos ricos o fundo prometido para os pobres enfrentarem os desafios climáticos e mais a reforma do Conselho de Segurança da ONU, velha bandeira dele.
Inebriado com o sucesso, Lula resolveu confrontar o mercado, com desdém a la Bolsonaro, e teve o troco. A Bolsa voltou a cair, o dólar subiu e um trio de ouro da economia ensinou, em carta, que nem tudo que parece é só especulação. O Brasil precisa de crédito.
Já em Portugal, porta de entrada do Brasil e agora de Lula na Europa, ele modulou o discurso e se disse “feliz”, primeiro porque o Brasil “volta a respirar” e, depois, pela carta de Pedro Malan, Arminio Fraga e Edmar Bacha. E declarou-se “humilde”. Há controvérsias.
Nessa primeira investida internacional após a vitória, Lula provocou contrastes com o sumido Jair Bolsonaro: discurso forte, combate à miséria e ao desmatamento, rigor contra crimes ambientais, pujantes relações com o mundo.
Até por isso, lançou a candidatura da Amazônia para sediar a COP de 2025 e anunciou que irá mais três vezes a Portugal, uma delas para a entrega do Prêmio Camões ao grande Chico Buarque, em Lisboa. Bolsonaro cancelou a COP de 2019 no Brasil, nunca foi a Portugal, destratou o presidente português e se negou a chancelar o prêmio do autor de “A Banda”, que sempre acerta ao prenunciar: “Vai passar…” Passou.
Depois de “felicidade”, Lula também citou duas vezes “tranquilidade” ao falar das “Forças Armadas constitucionais” e do reequipamento e modernização de Exército, Marinha e Aeronáutica na sua época. Aliás, o ministro da Defesa será civil e os comandantes serão escolhidos por antiguidade, excluídos os bolsonaristas incuráveis, claro.
Para Lula, o Brasil vive “um momento eufórico”. Mas é transição. Depois da posse, cai na real.
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