14 de outubro, 2024

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Emprego se segura; salário, nem tanto

Por Notas & Informações

O País criou 2,038 milhões de empregos com carteira assinada no ano passado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério do Trabalho. O número, que representa o saldo final entre contratações e demissões ao longo de 2022, foi puxado pelo desempenho do setor de serviços, último a se recuperar dos efeitos da pandemia de covid-19, com 1,177 milhão de vagas. O resultado, no entanto, deve ser lido pelo que ele realmente representa: um retrato do passado, e não uma tendência para este ano, marcado por desaceleração e muitas incertezas na economia.

O Caged se baseia nos registros formais de contratação e demissão de trabalhadores informados pelas próprias empresas. Expressa, portanto, apenas uma parte do mercado de trabalho brasileiro, muito caracterizado pela informalidade. Ainda assim, todos os grupamentos de atividades econômicas registraram saldo positivo – o comércio gerou 350 mil postos de trabalho; a indústria, 252 mil; a construção, 194 mil; e a agropecuária, 65 mil. No recorte por regiões do País, todas geraram mais vagas do que cortaram.

Para este ano, as projeções são mais modestas. Ainda que demissões sejam tradicionalmente esperadas no fim do ano, o Santander aponta que os dados de dezembro são compatíveis com um mercado de trabalho em desaceleração. As consultorias ainda projetam um saldo positivo entre contratações e demissões em 2023, mas bem menor que o do ano passado e sujeito a revisões para baixo, a depender do desempenho da economia.

Aproveitando a divulgação dos dados, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, fez um discurso político em defesa da formalização do mercado. Ele disse que o governo deve reforçar a fiscalização nas empresas para combater fraudes na contratação de trabalhadores registrados como pessoa jurídica (PJ) ou como microempreendedor individual (MEI). Marinho até tem alguma razão, mas não é esse tipo de operação que vai resolver um problema de dimensões bem mais amplas – como o custo de formalização da mão de obra.

O governo, por outro lado, faria muito bem se decidisse se debruçar sobre outros indicadores relevantes que o mesmo Caged apresenta. O salário médio de contratação no ano passado, de R$ 1.944,17, teve uma redução real de R$ 90,99 em relação ao pago em 2021. O salário médio de admissão em dezembro, de R$ 1.915,16, também registrou queda real em relação a novembro de R$ 17,90. Os rendimentos também permanecem mais baixos que os pagos antes da pandemia.

Se os números não trazem novidades, eles reforçam a máxima segundo a qual a inflação elevada tem o mesmo efeito de um imposto sobre os mais pobres, corroendo a renda do trabalhador e comprometendo sua já limitada capacidade de consumo. Em tempos de retomada de debates completamente superados na área econômica, como a revisão da reforma trabalhista, o Caged traz uma certeza cristalina: comprova como o controle da inflação, mais do que um capricho de investidores do mercado financeiro, é capaz de melhorar a vida do trabalhador de forma direta.

 

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