15 de outubro, 2024

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Entidades do varejo lançam hoje manifesto sobre a epidemia das bets

Um dos maiores eventos do varejo do país, o Latam Retail Show, que acontece no Expo Center Norte, em São Paulo, será palco hoje, às 14h, de um manifesto sobre um tema que tem tirado o sono dos varejistas: o avanço das plataformas de apostas on-line, as chamadas bets, no país.

Pouco mais de 20 entidades ligadas ao varejo brasileiro assinam o documento para se posicionar em relação ao assunto, e também pedir ações do governo para frear a epidemia das apostas, que têm atraído o dinheiro das famílias antes usado para pagar as contas do mês.

IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) e ABF (Associação Brasileira de Franchising) são algumas das entidades que endossam o movimento para o freio das Bets.

“As apostas on-line já têm impacto na saúde mental das pessoas, no consumo e no endividamento das famílias. Vamos propor e solicitar ações para inibir a epidemia das bets”, afirma Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral da Gouvêa de Souza, que realiza neste ano a 9ª edição da Latam Retail Show.

O manifesto será lido pela mestra de cerimônias do evento, Fabiana Panachão, para não expor individualmente uma entidade. Em seguida, o documento será divulgado por todas elas.

Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, afirma que a ideia do manifesto surgiu por pelo menos três preocupações do empresariado que envolvem as bets.

A primeira delas está relacionada com a epidemia das plataformas de apostas on-line Brasil. Basta dar um google com as palavras ‘casas de apostas’, que surgem dezenas de nomes convidando pessoas a jogar com as mais diferentes promessas de ganhos.

“As apostas estão num movimento crescente de forma pouco controlada e é bom que tenha um freio, já que transcende as questões relacionadas ao varejo”, afirma o presidente do IDV.

O segundo ponto que preocupa as entidades do varejo, diz, são as consequências em relação à saúde mental e à sociabilidade das pessoas. “Na verdade, é preciso ter um esforço para não entrar no mundo das apostas, que estão se transformando em vício”, diz.

Em terceiro lugar tem a questão do impacto na renda das pessoas, quando os gastos com as bets já comprometem até parte do orçamento familiar.

“Sem autocontrole, a pessoa começa a se endividar no cartão de crédito, começa a pedir dinheiro para parentes, tornando-se uma situação incontrolável”, diz.

Uma pesquisa on-line com pouco mais de 2,3 mil pessoas, realizada de 23 a 29 de agosto pela Varejo 360, por meio de seu aplicativo, revelou o impacto das apostas no orçamento.

27% informaram que as bets atingiram os gastos essenciais, como compras em supermercados e pagamento de aluguel, condomínio, contas de água, energia e telefone.

35% dos apostadores declararam que as apostas afetaram os gastos não essenciais, como a aquisição de roupas, calçados, eletrodomésticos e idas a restaurantes e espaços de lazer.

“As bets estão se tornando mais nocivas do que as plataformas chinesas, pois estão tirando vendas de todos os setores do varejo e até de bares e restaurantes”, diz Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).

Quando uma pessoa está sem dinheiro, geralmente, ela deixa de comprar. “No caso das plataformas de apostas, mesmo sem dinheiro, a pessoa não consegue parar gastar. É uma chaga das mais graves que o país vive porque vicia”, afirma.

SEM MÁGICA

Pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva mostrou que cerca da metade do dinheiro de apostadores que costumava ir para a poupança e bares e restaurantes está indo para apostas.

O instituto também identificou que 63% dos brasileiros que fazem apostas on-line já têm parte da renda comprometida com apostas, e que 67% conhecem pessoas que estão viciadas.

“O brasileiro tem a tendência de querer resolver magicamente o seu problema financeiro, o que faz com que depositem nas bets a esperança de obter um dinheiro. A percepção geral é que este movimento tem contribuído para aumentar o endividamento das famílias, reduzindo a capacidade consumo”, diz Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls.

Estudo do Banco Itaú calcula gastos da ordem de R$ 68 bilhões com bets e outros sites de jogos e apostas on-line no período de julho de 2023 a junho deste ano. Os saques foram de R$ 44,3 bilhões, o que significa que as perdas com os jogos foram de R$ 23,9 bilhões.

Para frear o avanço e as consequências das apostas on-line, identificadas por diversas pesquisas de empresas e cálculos realizados por bancos, o IDV tem algumas sugestões.

Uma delas seria limitar a influência de propagandas e anúncios de aplicativos e sites, já que quase 70% dos apostadores já afirmaram que as propagandas os levaram até as bets.

Outra sugestão seria a criação de alertas e instrumentos de contenção financeira. O foco seria impedir o endividamento de apostadores por meio de campanhas de conscientização, e regras para barrar o uso de cartões de credito, empréstimos ou outras formas de financiamento.

O IDV também indica ações e campanhas nos meios de comunicação sobre os riscos de dependência que causam as bets, equiparando as plataformas de apostas on-line ao tabagismo e ao alcoolismo, reforçando ainda que o tema já é uma questão de saúde pública. Algumas dessas sugestões para brecar o avanço das bets no Brasil deverão estar expostas no manifesto divulgado hoje.

Diário do Comércio (dcomercio.com.br)

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