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Escolha seu candidato, se puder

Esforços para estruturar ferramentas que auxiliem no voto esbarram em barreira jurídica.

 

Quem já comprou imóvel no Brasil conhece bem a dor de cabeça que é investigar o vendedor.

Deve-se tirar uma sequência de certidões, que mesmo após todos os resultados negativos estarão sujeitas a alguma malandragem do proprietário e a problemas posteriores.

Transporte esse exercício de direito civil para quase todos os ramos do direito e pronto: em vez de comprador, você agora é um eleitor.

Seu escolhido pode estar entre os milhares de nomes que já apareceram na Lava Jato, por exemplo. Isso significa o quê? Foi citado? Há prova? Acabou condenado? Pode também não ter aparecido na operação. Quer dizer que é idôneo? Não.

O candidato pode, só para exemplificar, ter matado uma família inteira a tiros. Ou ter desmatado área equivalente a centenas de campos de futebol na Amazônia. Ou dever milhões para o mesmo governo do qual ele quer, nas urnas, tornar-se gestor. Ou ter sido condenado em centenas de ações trabalhistas pela legislação que ele poderá, como parlamentar, alterar. Ou ter comprado votos algumas eleições atrás.

Quase nada disso é dito ao eleitor no momento da tomada de decisão.

Diversos veículos, como é o caso desta Folha, propõem-se a estruturar ferramentas que auxiliem no voto. Mas é preciso reconhecer que o esforço tem limites nítidos.

A grande barreira é jurídica. Primeiro, pela incapacidade da Justiça de centralizar informações atualizadas e claras sobre os candidatos. Segundo, pela extrema lentidão nos julgamentos, especialmente quando envolvem foro especial. Terceiro, pela falta de definição de critérios sobre quem pode ou não concorrer.

absurdo do último domingo (8), quando se determinou a saída de Lula da prisão com o argumento de que ele quer concorrer, foi só um aperitivo. Ainda virá pela frente o inacreditável registro de candidatura de alguém que está preso. Perto desse caso extremo, pedir que a Justiça informe decentemente os eleitores é exercício quase quixotesco.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/robertodias/2018/07/escolha-seu-candidato-se-puder.shtml