A governança ambiental, social e corporativa (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance – ESG) é uma abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do papel de gerar lucro para os acionistas. No varejo de alimentos, colocar em prática o ESG é estratégico e pode transformar o negócio, fortalecer a marca e contribuir para um futuro mais sustentável.
“O Brasil tem avançado, sobretudo a indústria, na implantação de práticas de ESG nas empresas, porém sentimos que o varejo, que é uma vitrine, uma porta da sociedade, está defasado no debate desse tema”, afirma Fábio Arruda, engenheiro e gestor do SESMT do Grupo Mateus, companhia que tem operações no varejo de supermercados, atacarejo e atacado, dentre outros, em nove estados do Norte e Nordeste.
Não dar a devida atenção ao desenvolvimento sustentável pode acabar afastando investimentos das empresas do setor, segundo o executivo. “Estima-se que de cada 3 dólares investidos hoje no mundo, 1 dólar vai para projetos sustentáveis, onde o investidor avalia a conexão entre o equilíbrio ambiental, o economicamente viável e o socialmente justo. Dentro desse cenário, será que nossas empresas estão se preparando, buscando conhecimento, ferramentas e dispendendo tempo para atuar nesse sentido?”, reflete.
O fato é que as empresas e os consumidores compartilham muitas dúvidas a respeito do ESG e pelo menos uma certeza: o desenvolvimento sustentável é positivo para todos.
“O ESG é o conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança a serem considerados na avaliação de riscos, oportunidades e impactos de uma organização. Entre os riscos podemos citar aqueles à reputação, desempenho, saúde financeira e continuidade do negócio. Já as oportunidades estão nos ganhos, nichos de mercado, conexão com clientes e colaboradores, produtividade e melhorias de produtos”, avalia a engenheira Patrícia Bittencourt, gestora de projetos da vice-presidência de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP.
Mas o ESG serve para qualquer tipo e porte de empresa? Por onde começar? Para Patrícia, se a organização quer ser bem-sucedida, independentemente do porte e segmento, a resposta é sim! E o ESG é uma jornada, ou seja, a empresa deve primeiro avaliar onde está, avaliar as necessidades, ir se preparando e se planejando para atingir o objetivo.
“Nessa fase inicial, buscar conhecimento é essencial. Um material que indico, por ser um documento que ajuda a empresa a entender o seu estágio e o que precisa para avançar na agenda é a norma ABNT PR 2030 – ESG, um documento pioneiro no Brasil, que traz uma base técnica, alinha os mais relevantes princípios ambientais, sociais e de governança e orienta os passos necessários para incorporá-los na corporação”, disse a especialista.
Especialmente no segmento de supermercados, o ESG traz oportunidades de mudança de práticas pontuais para ações estratégicas, dizem os especialistas.
No pilar ambiental, segundo Patrícia, o varejo de alimentos pode adotar o monitoramento dos sistemas e gerenciamento do consumo de energia; priorizar o uso de equipamentos mais eficientes; usar lâmpadas LED com sensores de presença e aproveitar mais a luz natural; e verificar a possibilidade de compra ou geração de energias renováveis como a solar fotovoltaica.
“Em termos de economia circular e gestão de resíduos, é aconselhável priorizar embalagens recicláveis e reutilizáveis; combater o desperdício de alimentos; implementar prática de coleta seletiva no ambiente interno e disponibilizar pontos de coleta para o público”, exemplifica Patrícia.
No pilar social é relevante criar um ambiente de trabalho com oportunidades de desenvolvimento; praticar o respeito aos direitos humanos; promover práticas de diversidade, equidade e inclusão e de saúde e segurança.
“No que se refere aos fornecedores, é importante destacar práticas como: oferecer condições de trabalho dignas; combater o desmatamento; ter a rastreabilidade da cadeia de fornecimento; fazer parcerias com fornecedores locais e pequenos produtores; e ter preocupação com o bem-estar animal”, destaca a especialista.
Clientes e comunidade não podem ficar de fora das ações de ESG. Patrícia destaca a conscientização do público sobre alimentos saudáveis, sustentáveis e seguros com preço justo e a criação de canais de comunicação, que beneficiam as empresas do varejo de alimentos. No que se refere à comunidade, a engenheira cita a inclusão de pequenos produtores, a capacitação e a priorização para contratação no entorno das lojas e o voluntariado como iniciativas que podem ser adotadas.
“O terceiro pilar é a governança, que abrange temas relevantes como a governança corporativa (compromisso com a sustentabilidade), a conduta empresarial (práticas de compliance e de combate à corrupção e à concorrência desleal), práticas de controle e gestão (gestão de riscos e auditorias e gestão da segurança da informação de tratamento de dados) e a transparência na gestão”, conclui.
A sigla ESG está na mídia e na moda, por isso é essencial que as empresas evitem banalizar ou mesmo confundir sustentabilidade e ESG, que não são a mesma coisa. A sustentabilidade é um conceito em evolução, um meio de alcançar o desenvolvimento sustentável.
“Outro erro corporativo é comunicar muito mais do que realmente se faz em ESG”, avalia Henrique Magalhães, engenheiro de Segurança do Trabalho e perito judicial, com experiência no varejo. “O consumidor em geral pode até não entender os conceitos ou o que significa a sigla, mas sabe perfeitamente quando uma empresa não tem uma atuação ética e transparente, sobretudo no varejo alimentar, que faz parte do dia a dia das pessoas”, completa o engenheiro.
Participe do Comitê Segurança e Medicina do Trabalho
Os especialistas se reuniram no dia 28/06 para debater o tema na palestra “A importância do ESG em supermercados”, ação do Comitê Segurança e Medicina do Trabalho, iniciativa do Grupo GPA com apoio do Sincovaga-SP (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo), que reúne hoje 20 empresas do segmento do varejo de alimentos.
Mais informações sobre como aderir ao Comitê Segurança e Medicina do Trabalho: (11) 3335-1100 ou pelo e-mail adm@sincovaga.com.br
Thais Abrahão – Presstalk Comunicação
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