25 de abril, 2024

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Essencial, varejista de alimentos tenta resistir às incertezas do país

Com ou sem pandemia, quarentena ou lockdown, é o comércio varejista de alimentos que abastece a mesa da população brasileira. Mesmo sendo um setor essencial, que não fechou as portas, ele também foi duplamente afetado pela crise sanitária: não só a própria queda no faturamento, pela redução de renda das famílias, mas também pelo fato de ser imprevisível até quando o “abre-e-fecha” vai se manter.

“É óbvio que algum grau de politização na discussão da pandemia aconteceria, mas, no Brasil, isso passou o limite do razoável. Houve um falso dilema entre economia e saúde e essa politização contaminou um debate mais técnico”, lembra Fabio Pina, assessor econômico da FecomercioSP. O problema, justifica, é que cada instância acabou decidindo de um jeito diferente. “A politização dividiu ações”, diz.

Marcos Guasso, da Compufour

Segundo ele, mesmo diante de tantas incertezas, as ações governamentais deveriam ter sido mais consensuais, mesmo que o decidido depois fosse percebido como um equívoco. “A gente não chegou a um mínimo consenso. Isso foi muito ruim. Se tivéssemos discutido de forma organizada, com sinergia entre as partes, talvez no Brasil tivéssemos melhores resultados econômicos e diante da pandemia”, afirma o especialista.

“Estamos passando por dificuldades porque todas as decisões anteriores foram tomadas sem embasamento, infelizmente. Não ter um norte, uma previsibilidade, é muito ruim. O empresário, o investidor e a população ficam perdidos. A razão perdeu lugar”, concorda Marcos Guasso, diretor comercial da Compufour Zucchetti.

Para Pina, o grau de desinformação da população só agrava o problema. “Não creio que seja impossível as pessoas nas periferias adotarem comportamentos que minimizem o risco de contágio. Mas, para isso, a boa informação que conscientiza é essencial.”

 

 

Preparar-se para quando passar

Otimista, Guasso sugere ser uma tarefa do empreendedor saber avaliar melhor as informações. “Hoje todo mundo dá opinião. Um dos grandes méritos de quem vai sobreviver é saber filtrar as informações e tomar uma decisão sem ‘achismos’”, diz. “Não adianta ficar esperando a pandemia passar sem que nos preparemos, movimentando as estruturas para atender o mercado que mudou”, completa.

O diretor da Compufour, empresa que oferece sistemas de gestão de negócios especializados em micro e pequenas empresas, ressalta não ser de hoje que empresas quebram, mas garante que “os reativos sempre morrem por inanição agarrados ao problema”.

Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, recorda que, na primeira onda, os supermercados venderam até mais. Mas destaca que o abre-e-fecha é muito ruim, porque, segundo ela, perde-se a capacidade de planejamento de demanda, o que leva a erros nos estoques. “Para mais ou para menos, perde-se dinheiro do mesmo jeito. E isso é mais difícil para os supermercados pequenos e médios”, afirma.

Para ela, além disso, essa situação fez com que o varejista não se planejasse com os fornecedores e tivesse dificuldades em realocar sua equipe. “A pandemia gerou muitas demissões, que têm um custo alto para o empresário. E, mesmo que possa agora reabrir, ele não contrata porque ainda está pagando o custo das demissões feitas”, admite.

 

Empresário está “machucado”

Ana Paula Tozzi, da AGR Consultores

No ano passado, no início da pandemia, em março, a insegurança vinha de todas as partes. “Existia naquela época um índice de aceitação do empresário de que o problema seria breve e não seria preciso demitir. No final de 2020, quando as atividades já tinham sido retomadas em certa medida, veio a perspectiva de uma segunda onda, após as festas de fim de ano. Já ‘machucado’, o empresário meteu o pé no freio para tudo”, conta Ana Paula.

Ela lembra que o varejista aprendeu que o prazo de retomada era de fato imprevisível. “Já era conhecido que a gente tinha um péssimo gerenciamento sobre a pandemia, com regras desconectadas e falta de previsão”, reflete.

Ela acredita que no segundo semestre a retomada vem, mas pede cautela. “É possível que, a partir de agosto, com a maioria da população vacinada e a proximidade do verão, tenhamos algo parecido com o que ocorre em Miami. Até lá, o empresário tem de ser extremamente conservador na gestão e planejado em caixa e rentabilidade”, recomenda.

A consultora explica que “ter uma gestão conservadora significa trabalhar com os produtos mais seguros e para o público mais certeiro, mantendo foco no DNA de seu negócio e o básico bem-feito”. Além disso, sugere, “é essencial não tirar o pé da transformação digital – não importa o capital que sobra no dia a dia, tem de continuar investindo nisso”.

 

Briga ridícula

O abre e fecha afeta de uma forma desastrosa principalmente as pequenas e médias empresas, que têm de lidar com afastamentos, desligamentos, precauções e um cenário econômico mais restrito.

Guasso lembra que mesmo os benefícios oferecidos, que poderiam aliviar a jornada das empresas, enfrentaram ações na direção contrária, como no caso da retirada de redução de várias alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em São Paulo. A briga de lados muitas vezes beirou o ridículo.

Para ele, agora, a atuação do empresário precisa se concentrar apenas em dois vieses: para dentro e para fora do portão. “Para dentro, é preciso olhar processos, orçamento, enxugar cada despesa, buscar algum incentivo do governo, além de indicadores e processos que podem mudar”. A redução de pessoal, diz, é algo drástico. “Não dá só para olhar para os colaboradores como custo. Tem de garantir a eficiência no processo, porque com menos funcionários pode-se reduzir até o próprio faturamento”, diz.

 

Novos negócios

Ana Paula alerta ainda para o fato de que vão sobrar muitas oportunidades no mercado e muitos pontos comerciais interessantes. “Quem sair da crise vai ter à disposição muitas chances de se reposicionar. Quem tem boa gestão terá aluguéis mais baratos, mão de obra boa disponível.”

Além disso, para manter o negócio saudável, é necessário também observar quais os negócios que vão sumir e os processos que não vão mais existir. “Mas outros negócios vão aparecer. O dinheiro está no mercado, cabe a nós entender onde ele estará”, sugere Guasso.

Para ele, a reinvenção será crescer pela remodelação do modelo de negócio, se mostrando relevante para o cliente. “A verdade é que não estávamos preparados para olhar para um horizonte mais largo, ficamos restritos ao local, off-line. A pandemia prejudica muito mais quem não se reinventa”, conclui.

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