05 de outubro, 2024

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Geração nem-nem: quantos jovens não estudam nem trabalham no Brasil? E nos países ricos?

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Os jovens entre 25 e 34 anos que não trabalham nem estudam — os chamados “nem-nem” — são quase 1 em cada 4 (24%) no País, conforme o estudo Education at a Glance 2024, divulgado nesta terça-feira, 10, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de países desenvolvidos economicamente do qual o Brasil não faz parte. Esse número caiu 5,4 pontos percentuais em sete anos (era de 29,4% em 2016), mas ainda é considerado alto pelos especialistas.

O número da entidade internacional é pior do que o divulgado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) da Educação, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado e correspondente a 2022, de 20% (9,6 milhões de jovens). A PNAD avalia uma faixa etária diferente: dos 15 aos 29 anos.

Na pesquisa do IBGE, quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado a escola, os jovens apontam a necessidade de trabalhar como fator prioritário (40,2%), ainda que nem sempre consigam emprego. A gravidez (22,4%) e a demanda de tarefas domésticas ou cuidar de outras pessoas (10,3%) também aparecem como motivos, sobretudo para mulheres.

A taxa de jovens brasileiros “nem-nem” é ainda bastante superior à média dos países da OCDE, que tinha 13,8% dos jovens nessa categoria no ano passado, dois pontos percentuais a menos que sete anos antes. Na última década, a oferta e a qualidade de emprego no Brasil foi afetada pela crise econômica 2015-2016 e pela pandemia, a partir de 2020.

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Além disso, o País tem visto o envelhecimento da sua população e o gradual fim do período de bônus demográfico (quando uma nação atinge o auge da faixa da população em idade para trabalhar). Para evitar perdas econômicas e dar conta dos crescentes gastos sociais com idosos (saúde, aposentadorias, assistência social), é necessário elevar a produtividade dos trabalhadores.

Entre as principais saídas para reduzir a proporção de jovens nem-nem, estão a melhoria da qualidade do ensino básico, o que permitiria um salto de aprendizagem. O Brasil aparece entre os últimos colocados do Pisa, principal avaliação internacional da educação.

Outro medida é fortalecer a oferta de educação técnica/profissionalizante de nível médio, o que garantiria mais emprego aos jovens, além de atender a demandas do mercado. A reforma do ensino médio aprovada em 2017 flexibilizou o currículo da etapa de forma a abrir mais espaço para esse tipo de conteúdo. Após problemas de implementação, um novo ajuste no formato foi sancionada no mês passado no governo federal, com implementação prevista nos próximos anos.

Especialistas defendem também ampliar o número de horas em que os alunos passam na escola, com a ampliação da oferta de ensino integral. Além disso, aparece a importância de incentivo a uma educação que estimule o pensamento crítico e a aprendizagem “mão na massa”, capaz de desenvolver cidadãos preparados para a revolução tecnológica, como no uso da inteligência artificial.

Países desenvolvidos investem fortemente para que os alunos cursem o ensino profissional junto com o médio. No Brasil, só 10% dos alunos cursam o técnico, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

“A difícil situação do mercado de trabalho enfrentada pelos trabalhadores sem qualificação secundária superior se reflete nas taxas de emprego entre os jovens”, aponta o levantamento da OCDE. Isso porque 64% das pessoas entre 25 e 34 anos sem ensino médio no Brasil estão empregadas, ante 75% dos jovens que têm ensino médio ou superior. O número é semelhante aos países da organização internacional, cujas taxas são de 61% e 79%, respectivamente.

Mesmo assim, trabalhadores sem qualificação de ensino médio ou superior recebem salários significativamente mais baixos do que aqueles que possuem diploma, mostra o estudo. No Brasil, essa realidade é ainda mais discrepante do que nos países desenvolvidos.

No Brasil, 59% das pessoas de 25 a 64 anos de idade com nível de escolaridade inferior ao ensino médio ganham metade ou menos da renda mediana, em comparação com 37% dos trabalhadores com ensino médio ou superior não terciário e 19% com nível superior terciário. Enquanto isso, entre as nações desenvolvidas OCDE as médias são de 28%, 17% e 10%, respectivamente.

Desigualdade de gênero

O estudo mostrou também desigualdade de empregabilidade entre mulheres e homens. Apesar de as mulheres terem melhores resultados educacionais em quase todos os parâmetros avaliados, elas têm menos probabilidade de estar empregadas que os homens.

“Embora as meninas e as mulheres tenham um desempenho claramente superior ao dos meninos e dos homens na educação, o quadro se inverte quando elas entram no mercado de trabalho; as principais medidas dos resultados do mercado de trabalho são, em geral, piores para as mulheres do que para os homens”, afirma a OCDE no documento.

No entanto, essa mesma faixa etária feminina tem menor probabilidade de estar empregada do que a masculina, com uma diferença ainda maior para aquelas com nível de escolaridade abaixo do ensino médio e menor para aquelas com nível superior.

No Brasil, apenas 44% das mulheres jovens com nível educacional abaixo do ensino médio completo estão empregadas, enquanto a proporção correspondente para homens jovens é de 80%. Já entre os jovens com nível superior com emprego, a taxa é de 85% para as mulheres e 92% para os homens.

Além disso, o nível superior não exclui diferença salarial entre homens e mulheres. Em toda a OCDE, as mulheres jovens com qualificação de nível superior ganham, em média, 83% do salário de seus colegas homens, enquanto a fração correspondente é de 75% no Brasil.

Além das disparidades de gênero, historicamente os dados têm mostrado profundas diferenças raciais no acesso à educação e a empregos mais qualificados no Brasil. Um dos mecanismos que têm reduzido esse desnível é a adoção de cotas em universidades públicas, o que ampliou o ingresso de pretos e pardos em cursos superiores desde o início da década passada.

Faculdades públicas e privadas

A maior discrepância entre o Brasil e os países da OCDE está na distribuição dos alunos entre as instituições de ensino superior públicas e privadas e na internacionalização dos estudantes.

Enquanto os brasileiros se graduam, em sua grande maioria, em bacharelados de instituições privadas — e com tendência de aumento, subindo de 77% em 2013 para 81% em 2022 —, nos países da organização internacional os estudantes se formam majoritariamente (63%) em instituições públicas.

Apesar disso, a educação privada está gradualmente se tornando mais comum em todos os níveis de ensino superior também nos países desenvolvidos, tendo aumentado 3% entre 2013 e 2022.

Por sua vez, a OCDE tinha 6% de todos os seus alunos de ensino superior vindos de mobilidade internacional em 2022. “Muitos países procuram atrair estudantes do ensino superior com mobilidade internacional, pois eles geralmente pagam taxas de ensino mais altas e, se decidirem permanecer no país após a graduação, trazem habilidades valiosas para o mercado de trabalho”, diz o documento da organização internacional.

Já no Brasil, não há registro de participação significativa de internacionalização, totalizando valor próximo a 0%, que se manteve inalterado desde 2013, apesar de alguns programas de mobilidade estudantil em grandes universidades.

Em movimento contrário, ainda que restrito a uma minoria, alunos de escolas particulares têm buscado cada vez mais fazer faculdade no exterior. Em alguns colégios de ponta em São Paulo, o índice de alunos aprovados em universidades no exterior chegou a 40% em 2024, mas em geral fica em até 10% em 15 colégios da capital paulista consultados pelo Estadão.

Geração nem-nem: quantos jovens não estudam nem trabalham no Brasil? E nos países ricos? – Estadão (estadao.com.br)

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