Por Beth Moreira
O GPA, dono da rede Pão de Açúcar, iniciou os trabalhos para fazer uma potencial oferta pública primária de ações no valor estimado de R$ 1 bilhão. Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa afirma que a decisão está alinhada com a proposta de continuidade aos trabalhos de melhoria operacional da companhia, iniciados em 2022. A notícia fez as ações ordinárias do grupo cair 10% na abertura. Por volta das 11h, essa baixa estava em 7,16%.
O principal objetivo da emissão, afirma a empresa, é garantir recursos adicionais necessários para ter maior flexibilidade financeira, mantendo o foco na operação para uma próxima fase de crescimento.
O GPA contratou Banco Itaú BBA e o BTG Pactual para análise da viabilidade e dos termos da potencial transação e a BR Partners Banco de Investimento, como assessor financeiro.
“A potencial oferta se insere no plano de otimização da estrutura de capital da companhia, que compreendeu a venda de ativos não core, incluindo a venda da participação de 34% na Cnova N.V., e o processo de venda da participação de 13,3% no Almacenes Éxito”, diz a empresa.
Grupo contratou Banco Itaú BBA, BTG Pactual e BR Partners para fazer operação Foto: Divulgação/Pão de Açúcar
Segundo a companhia, caso a potencial oferta seja efetivada, os recursos obtidos serão empregados na redução do endividamento da companhia, com a consequente diminuição da sua alavancagem financeira.
Assembleia
Ainda, no âmbito dos estudos preliminares e planejamento estratégico para consecução da potencial oferta, a companhia convocou, nesta data, Assembleia Geral Extraordinária, a ser realizada em 11 de janeiro de 2024 em primeira convocação, para deliberar, dentre outros assuntos acerca do aumento do capital autorizado da companhia para até 800 milhões de ações ordinárias; e proposta da administração para eleição de uma nova chapa de conselho de administração, condicionada à liquidação da potencial Oferta e com posse 30 dias após a liquidação.
“A chapa proposta para eleição na assembleia geral extraordinária ora convocada é fruto de alinhamento entre a administração da companhia e seu atual acionista controlador, Casino Guichard Perrachon”, ressalta a varejista.
A chapa é composta por nove membros, sendo seis membros independentes: Eleazar de Carvalho Filho, Luiz Augusto de Castro Neves e Renan Bergmann, atuais membros independentes reconduzidos ao cargo, e José Luis Gutierrez, Márcia Nogueira de Mello e Rachel Maia, novos membros independentes.
Dois membros são indicados pelo Casino: Christophe José Hidalgo e Philippe Alarcon, além de continuar contando com o Marcelo Ribeiro Pimentel, como membro representante da administração da companhia. Além disso, a Chapa indica Renan Bergmann como Presidente do Conselho de Administração. “A composição ora proposta é condizente com a potencial diluição do atual acionista controlador”, afirma o GPA.
A empresa lembra que a efetiva realização da potencial oferta, seus termos e condições, assim como qualquer operação para captação de recursos, está sujeita, entre outros fatores, à obtenção das aprovações necessárias, incluindo as respectivas aprovações societárias aplicáveis, bem como às condições políticas e macroeconômica nacionais e internacionais favoráveis e ao interesse de investidores, dentre outros fatores alheios à vontade da companhia.
Na avaliação do Safra, a potencial oferta primária de ações do GPA reduziria drasticamente o endividamento da companhia. Portanto seria positiva em termos de balanço. Contudo, o banco pondera que a diluição resultaria em uma redução no preço-alvo do papel de R$ 4,50 para R$ 4,10, o que equivale a um potencial de valorização de 3,92% sobre o fechamento de sexta-feira, 8.
“O GPA tem atualmente uma posição de dívida líquida de R$ 3 bilhões, ou uma relação dívida líquida/Ebitda de 7,2 vezes (ex IFRS). Considerando a oferta de R$ 1 bilhão, a dívida líquida seria de R$ 2,0 bilhões, com alavancagem de 4,8 vezes; além disso, se considerarmos os recursos já anunciados provenientes da venda da participação do GPA no Éxito e na C-Nova, a dívida líquida cairia para R$ 1,2 bilhão e a alavancagem para 2,8 vezes”, calcula o analista Vitor Pini.
O Safra diz ainda que provavelmente o Casino não participará da oferta de ações do GPA, visto que o grupo afirmou sua intenção de alienar ativos não essenciais. Isso “resultaria na diluição de sua participação atual de 40,9% para 20,4%, assumindo o preço médio de fechamento dos últimos 30 dias como base para estabelecer a quantidade de novas ações a ser emitido (270,6 milhões)”, pondera a casa.
Já o Bradesco BBI avalia que é improvável que o Casino siga com a potencial oferta primária do GPA, pois o grupo havia informado no início de 2023 que sua intenção era desinvestir em todos os ativos sulamericanos. Contudo, o banco destaca que, caso aceita, a potencial oferta primária de R$ 1 bilhão significaria uma diluição potencial de aproximadamente 50% aos acionistas, ao mesmo tempo em que poderia melhorar a atual estrutura desequilibrada de capital da companhia.
Segundo o grupo, objetivo é ter flexibilidade financeira para tocar nova fase de crescimento da empresa; ações caem mais de 7% por causa do anúncio
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
“Em nossa opinião, é improvável que o Casino siga esta oferta primária. No entanto, como a atual capitalização de mercado do GPA está avaliada em R$ 1,17 bilhão, uma oferta primária de R$ 1 bilhão significa uma diluição potencial de aproximadamente 50% para os acionistas”, ponderam os analistas Felipe Cassimiro, Pedro Pinto, Renan Sartorio e Joao Andrade, em relatório enviado a clientes.
Os analistas citam ainda que a necessidade de uma oferta primária reitera a visão do BBI de que o atual plano de recuperação do GPA não é suficiente para equilibrar sua estrutura de capital.
https://www.estadao.com.br/economia/negocios/gpa-oferta-primaria-acoes-r-1-bilhao/
Comentários