Por Fátima Fernandes
Instabilidade política com reflexo na economia é tudo o que o empresário não quer num momento em que a população volta ao seu ritmo normal, após um ano e meio de pandemia.
Taxa de desemprego ao redor de 15%, renda das famílias em queda e inflação e juros em alta já são indicadores suficientes para o sumiço dos consumidores neste final de ano.
Depois das críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro aos ministros do STF no Dia 7 de Setembro, as reações, os efeitos no mercado de ações, como tudo isso afeta os negócios?
O Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas (NDEV), formado por cerca de 20 executivos de redes e shoppings, fez essa pergunta para os associados. Eis o que eles disseram.
Dos 16 executivos que responderam a enquete, feita por WhatsApp, 13 disseram que, pelo menos até agora, o imbróglio político não deve afetar os planos de expansão das redes.
Eles são executivos de empresas como Riachuelo, Mc Donald´s, Outback, Grupo Soma, Via (Casas Bahia e Ponto Frio), Rei do Mate, Petz, mas não são, necessariamente, os porta-vozes.
Para eles, a economia e o consumo tendem a crescer, essa é a expectativa, por enquanto, mesmo com as turbulências políticas previstas para até as eleições de 2022.
“Pelo menos, neste momento, eles entendem que a questão política não mexe com os negócios, apesar de os planos serem conservadores”, diz Marcos Hirai, coordenador do NDEV.
No setor de shoppings, de acordo com ele, as posições dos executivos são mais cautelosas do que as dos que estão nas grandes redes, ainda por conta dos efeitos da pandemia.
Executivos de centros comerciais médios dizem que, como a vacância ainda é alta, não se fala em investimento, expansão, pelo menos até este momento.
Executivos que representam os strip malls, os chamados shoppings de vizinhança, que reúnem uma meia dúzia de lojas em ruas, já estão mais otimistas.
“Os strip centers estão vivendo um momento diferente do dos shoppings convencionais, até porque as lojas de rua estão tendo uma demanda maior”, afirma Hirai.
A carta que Bolsonaro publicou um dia depois das manifestações num tom mais amigável ajudou a acalmar o mercado e a reforçar a perspectiva dos executivos de que, no médio prazo, a economia pode voltar à normalidade.
De acordo com Hirai, os empresários acabaram, de certa maneira, se acostumando com ‘o estilo cachorro chihuahua’ do presidente Bolsonaro, que ‘grita, mas não morde’.
“Mas é importante dizer que, na avaliação dos executivos, se a política estivesse tranquila e as reformas, andando, os investimentos em expansão seriam muito maiores”, diz Hirai.
A Westwing, plataforma que vende artigos para a casa e decoração, viu o preço de suas ações cair 50% desde fevereiro, quando fez a primeira oferta pública de ações (IPO) da companhia.
“Isso acontece com todas as empresas quando cresce a percepção de risco do país, mas esta instabilidade deve passar no médio prazo”, diz Andres Mutschler, sócio-fundador da empresa.
Com a entrada de R$ 1,2 bilhão no caixa em fevereiro, a Westwing, que fatura cerca de R$ 370 milhões por ano, se prepara para abrir cinco lojas físicas neste ano e outras dez em 2022.
“Continuamos com o nosso foco de crescer e ganhar fatia do mercado”, diz.
O mercado de casa e decoração, que movimenta cerca de R$ 110 bilhões por ano, é fragmentado. Cada grande player não chega a ter mais de 2% de participação.
A rede Marisa, que se prepara para lançar a maior plataforma para a mulher do país, também vai manter planos traçados para renovar e expandir o número de lojas.
Para Marcelo Pimentel, CEO da rede, não há dúvida, porém, de que toda a insegurança política vivida neste momento no Brasil traz algum arrefecimento do consumo.
“Os consumidores, mais austeros e preocupados com que está por vir, demoram um pouco mais para tomar a decisão de compra”, afirma ele.
Para Celso Amâncio, consultor de varejo, a instabilidade política é “altamente prejudicial” para os negócios em qualquer setor.
“O comércio gira em torno do estado de espírito dos consumidores. Se as notícias são ruins, as pessoas ficam em casa, os empresários não investem, cria-se uma paralisia no mercado”, diz.
Agora, este também pode ser um momento, diz ele, de boas oportunidades para os empresários que estão com dinheiro em caixa.
“Com poder financeiro, o lojista pode comprar mercadorias, alugar imóveis com maior facilidade. O momento é complicado, requer inteligência, estratégia e dedicação.”
Com 32 lojas especializadas em produtos de beleza, a Soneda Perfumaria aproveitou as oportunidades imobiliárias para abrir mais três lojas neste final de ano e oito no ano que vem.
“Procuramos não olhar para fora. Temos uma lição de casa muito focada, e não nos deixamos contaminar nem por pessimismo nem por otimismo”, diz Minoru Kamachi, diretor da rede.
Boa parte das lojas da Soneda será aberta em ruas e também no modelo store in store, loja dentro de outra loja.
Recentemente, a Daiso Japan abriu uma loja dentro da Soneda em calçadão no centro de Guarulhos.
Da mesma forma, a Soneda negocia a sua entrada em áreas de outras redes. “São parcerias que funcionam para tornar os espaços mais convenientes para os clientes”, diz Kamachi.
A pesquisa do NDEC envolveu executivos de grandes redes. O resultado pode ser outro, de acordo com consultores de varejo, quando se trata do pequeno comerciante.
Para Amâncio, se o pequeno lojista não tiver uma excelente equipe de vendas, um estoque interessante, além de bons preços, vai ter muita dificuldade para sobreviver.
Expansão, investimento, no caso dos pequenos lojistas, é algo que fica somente para sonho, pelo menos por enquanto, de acordo com consultores de varejo.
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