Eliane Cantanhêde.
O Brasil é uma das maiores economias do mundo, despejou fortunas na Copa, na Olimpíada, nas “campeãs nacionais” JBS e Odebrecht e tem tanto dinheiro sobrando que o ex-governador do Rio nadava em joias, um dos envolvidos na Lava Jato estocava malas de dinheiro num apartamento vazio de Salvador, um outro devolveu US$ 100 milhões roubados à Petrobrás e vai por aí afora.
E os miseráveis? A geração de empregos? O dinheiro da Cultura? E a nossa história, o Museu Nacional, o da República, o do Ipiranga…? Para isso não há recursos, nem campeões nacionais, nem boa vontade, nem reconhecimento. Entra governo, sai governo, e o risco só aumenta, até que uma tragédia como a de domingo sacode o País.
As labaredas que destruíram os 200 anos de história jogaram luz no descaso, na falta de prioridade, nos desvios milionários, na simbiose entre corrupção e colapso, no empurra-empurra da culpa. Um erro vai puxando o outro, num círculo vicioso que leva a níveis insuportáveis a indignação, em pleno ano de eleições gerais.
O jornalista Sérgio Aguiar e eu adoramos o Museu da República, em Laranjeiras, no Rio, com peças lindas e tanta história que os personagens parecem eternizados ali. Uma parte, porém, estava bloqueada ao público, com goteiras e mofo. Era, nada mais nada menos, o quarto onde Getúlio Vargas “se despediu da vida para entrar para a história”.
No Museu Nacional, a indignação começa com questões simples. Por que não tinha brigada de incêndio de plantão? Nem água suficiente para debelar o fogo? Nem detecção, alarme e sistema de combate a incêndios? O Ministério da Cultura diz que fechou um financiamento em junho com o BNDES para restaurar o museu e prevenir incêndios. Agora, as verbas vão sair…
Os governos nunca deram muita bola para cultura e vêm reduzindo os recursos do museu desde 2010, mas Dilma Rousseff, o senador Lindbergh Farias e o deputado Wadih Damous, do PT, trataram de “esquecer” que o descaso vem de governo em governo e foi mantido inclusive nos oito anos de Lula e nos seis da própria Dilma. Por isso, arranjaram dois culpados: o governo Michel Temer e o teto de gastos. Falsear a realidade não é fazer política, é má-fé.
Depois do leite derramado, como sempre, todos apressaram-se a prometer mundos e fundos para reconstruir o Museu Nacional, mas não há dinheiro que possa recuperar o tesouro que havia dentro daquele prédio. Temer soltou nota de pesar, o ministro da Educação acenou com recursos de emergência, o da Cultura, que não apareceu na festa dos 200 anos do museu, passou o dia ao vivo nas TVs, o reitor da UFRJ ficou rouco de tanto falar que fizera a parte dele.
Mas o pior de todos, o mais infeliz nas declarações foi o ministro Carlos Marun, que fez o governo Temer vestir uma carapuça que não era sua, ou só sua, e saiu criticando as “viúvas do museu”. Perdeu uma excelente chance, mais uma, de ficar calado numa hora dramática como essa.
A questão resvala até nas instituições que mais lucram no País, seja o governo liberal, seja do Partido dos Trabalhadores: os bancos. Todos os grandes têm belos centros culturais, mas, como cobra uma ex-dirigente do Museu da Imagem e do Som (MIS), por que não ajudam a preservar os museus públicos?
O Museu Nacional ardendo, com 90% do seu acervo, deixou em segundo plano as eleições, mas fez disparar a indignação caótica e as comparações mais incômodas nas redes sociais. Exemplo: segundo a ONG Contas Abertas, o Brasil gasta(va) com esse que é um dos principais museus do País praticamente a mesma coisa que consome com a lavagem de 19 carros oficiais da Câmara dos Deputados por ano. Pobre Brasil… O Estado de S.Paulo.
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