Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
A inflação está longe de ser controlada, mesmo com o recuo de alguns preços, e é prudente conter o otimismo diante de uma possível deflação em julho. Depois de subir 0,67% em junho, acumulando alta de 11,86% em um ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode ter variação negativa de 0,28% neste mês, segundo a última pesquisa Focus, conduzida no mercado pelo Banco Central (BC). Qualquer alívio observado neste período será explicável principalmente pela redução de alguns impostos e pelo recuo das cotações internacionais de matérias-primas. Mas o ganho para as famílias, muito bem-vindo num cenário com tantos desafios, deve ser passageiro. O custo de vida voltará a aumentar e o balanço final do ano poderá mostrar, também de acordo com as projeções do mercado, uma alta de 7,67%. Será um resultado melhor que o estimado quatro semanas antes, de 8,50%, mas ainda muito acima do teto da meta, de 5%.
A insegurança sobre a evolução dos preços neste semestre está associada principalmente a dois fatores. Um deles é a variação das cotações internacionais dos combustíveis e dos alimentos. O recente recuo desses preços foi ocasionado em grande parte pelo temor de recessão nos Estados Unidos e, provavelmente, em outras grandes economias. Uma melhora da expectativa poderá reaquecer os mercados. Durante meses, os preços foram sustentados por problemas de oferta ocasionados pela guerra na Ucrânia, pela redução de vendas de alguns países produtores e por diminuição de atividades na China, em áreas com novos casos de covid-19.
Outro grande fator de incerteza está associado a interesses políticos do presidente Jair Bolsonaro e de seus associados. Bondades eleitoreiras ameaçam o equilíbrio das contas federais e o teto de gastos e, além disso, podem resultar em dívida pública mais volumosa e mais cara e em dificuldades maiores para o próximo governo. Estimado em mais de R$ 40 bilhões, o pacote de benefícios em discussão nos últimos dias é um exemplo, entre muitos, das ações irresponsáveis consumadas conjuntamente pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores no Congresso.
Embora o mercado tenha reduzido a projeção, a inflação estimada para este ano ainda é desastrosamente alta. Além disso, os cenários desenhados para os próximos dois anos pioraram. A alta de preços esperada para 2023 passou, em quatro semanas, de 4,70% para 5,09% – superando, de novo, o limite superior da meta (5%). O número projetado para 2024 subiu, no mesmo intervalo, de 3,25% para 3,30%.
O crescimento econômico previsto para este ano passou em um mês de 1,42% para 1,59%, mantendo-se a expectativa de um desempenho pífio. A projeção para 2023 diminuiu de 0,55% para 0,50%, também no período de quatro semanas.
Com a atividade avançando em ritmo tão baixo, a economia deve continuar gerando poucos empregos. Com a desocupação e a subocupação ainda elevadas neste ano e no próximo, as famílias continuarão desafiadas a sobreviver com renda mensal muito escassa e ainda sujeita à corrosão inflacionária.
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