Por Notas & Informações
Universidades e escolas estão diante de um novo desafio: avaliar seus alunos em tempos de enormes avanços e popularização da inteligência artificial (IA). Como noticiou o Estadão, a necessidade de rever métodos de avaliação ficou evidente após o lançamento do chamado ChatGPT, um sistema de inteligência artificial capaz de responder a perguntas e criar textos sobre assuntos variados, com explicações aprofundadas e informações de contexto. Disponível na internet, o novo sistema é simples de usar e, até o momento, gratuito. Na área da educação, cresce a preocupação com o eventual uso indevido por parte de estudantes − um risco que certamente exigirá mudanças nas avaliações.
O debate é recente: o ChatGPT foi lançado no fim de novembro e logo provocou reações nos Estados Unidos, onde o ano letivo estava em pleno andamento. Como informou o New York Times, já houve escolas públicas em Nova York e Seattle que proibiram o acesso ao dispositivo, uma medida de difícil controle. Universidades norte-americanas, por sua vez, têm agido para alterar o formato das avaliações, buscando adaptar-se à nova realidade. Exames com consulta e tarefas de casa cedem lugar a testes realizados na sala de aula, a provas orais ou a textos escritos à mão.
São medidas paliativas, que apenas tangenciam a revolução que se insinua. No Brasil, a comunidade acadêmica mal começou a discutir como encarar o problema. Conforme noticiou o Estadão, a página da nova ferramenta está em inglês, mas o sistema entende e fornece respostas em português. Uma das saídas apontadas por professores é a elaboração de questões mais complexas, que exijam capacidade de análise dos estudantes e fujam do repertório à disposição da inteligência artificial. O professor Carlos Rafael, que leciona no curso de Sistemas de Informação da ESPM, afirmou que o banco de dados do ChatGPT vai até 2021. Ou seja, fatos mais recentes estariam fora do alcance da máquina − pelo menos por enquanto.
Transformações provocadas por avanços tecnológicos fazem parte da história humana. Vale lembrar que a inteligência artificial já foi capaz de derrotar campeões de xadrez e está presente em atividades tão variadas como o controle de estoques, o reconhecimento facial ou o atendimento ao público em serviços digitais. Não surpreende, portanto, que chegue às salas de aulas. Assim como em outras áreas, cabe a professores e estudantes tirar proveito da tecnologia sem incorrer em plágio nem adotar condutas antiéticas.
Uma das tantas possibilidades de uso do ChatGPT, por exemplo, é ajudar estudantes na revisão de conteúdos e na preparação para testes. O sistema, se bem orientado, elabora resumos e roteiros que podem facilitar a vida de qualquer aluno. Tal funcionalidade pode servir também a docentes na hora de planejar aulas. Nesse sentido, porém, recomenda-se cautela dupla. Embora útil para selecionar informações e apresentar temas complexos de maneira simplificada, a ferramenta é, por enquanto, incapaz de substituir a figura do professor, além de estar sujeita a erros e limitações − algo que o próprio ChatGPT admite com transparência. Sua contribuição, portanto, não pode ser mais que um ponto de partida para o trabalho docente.
O mesmo raciocínio se aplica a pesquisadores e estudantes de pós-graduação: o uso da inteligência artificial é bem-vindo na medida em que acelere e amplie a geração de conhecimentos. Nunca para pular etapas indispensáveis à validade do método científico. Quanto a isso, será bem-vindo um ChatGPT que contribua para aperfeiçoar as ferramentas que detectam casos de plágio, identificando textos produzidos por inteligência artificial − algo que está no radar de universidades e revistas científicas.
Se a inteligência artificial será capaz de substituir a mente humana, ainda é uma questão em aberto. O fato, contudo, é que a IA já é uma realidade, e pode servir tanto ao estudante preguiçoso quanto aos profissionais que precisam poupar tempo gasto em atividades cotidianas para se dedicar integralmente à criação – a verdadeira vocação da inteligência humana.
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