Por Notas & Informações
O Brasil está faturando bilhões de dólares graças à inflação internacional, um pesadelo para consumidores de dezenas de países. A exportação do agronegócio rendeu US$ 136,10 bilhões de janeiro a outubro deste ano e garantiu quase metade (48,5%) do valor das vendas externas do País. Um ano antes a contribuição havia sido de 43,4%. O agro continua sendo o setor mais eficiente e mais competitivo da economia brasileira, mas sua inegável eficiência explica apenas parcialmente o avanço entre 2021 e 2022. De um ano para outro o volume exportado aumentou 6,6%, enquanto os preços médios cresceram 24,7%.
Considerado apenas o comércio de alimentos e matérias-primas agropecuárias, o resultado setorial foi um superávit de US$ 121,8 bilhões, 35,8% maior que o acumulado entre janeiro e outubro do ano anterior. Isso foi bem mais que suficiente para assegurar, em dez meses, o saldo positivo de US$ 51,6 bilhões na balança comercial de bens. Apesar do menor dinamismo global, o desempenho brasileiro nas trocas internacionais, sustentado principalmente pelo agro e pelo setor mineral, tem sido suficiente para garantir a segurança externa da economia. O estoque de reservas tem-se mantido satisfatório, com pequenas oscilações.
Apesar do contágio dos problemas externos e dos desajustes domésticos, a inflação brasileira tem sido inferior àquela observada em vários países avançados e emergentes. Nos 12 meses até outubro, os preços ao consumidor subiram em média 10,7% em 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), puxados principalmente pelo custo dos alimentos. No Brasil, nesse período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 6,47%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas o aumento de juros para conter os preços começou no Brasil mais cedo que nos Estados Unidos e na Europa. Os efeitos anti-inflacionários dessa política já aparecem na economia brasileira, mas o custo maior do crédito já influencia também os negócios, impondo um freio ao crescimento econômico. A atividade tem perdido vigor neste trimestre e, segundo projeções do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) dificilmente aumentará mais que 1% em 2023.
Embora beneficiado no comércio pela alta de preços dos alimentos, o Brasil também é afetado negativamente pela inflação global. Além do risco do contágio inflacionário, há os efeitos do aperto financeiro nos Estados Unidos e na Europa.
Em todo o mundo rico os bancos centrais começaram, com algum atraso, a elevar juros para conter a onda inflacionária. Dinheiro caro no mundo rico afeta os fluxos de dólares, canaliza capitais para os mercados desenvolvidos e isso se reflete na economia brasileira. Menor crescimento global limita o comércio e, além disso, juros altos no exterior dificultam a redução da taxa no Brasil. É preciso, no planejamento governamental, considerar todos esses fatores. Essa tarefa é especialmente importante quando um novo governo se prepara para entrar em cena.
https://www.estadao.com.br/opiniao/lucros-e-perdas-na-inflacao-global/
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