Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou a criação de 260 mil empregos formais em janeiro como um sinal de forte retomada dos negócios, mas os números da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram uma atividade em ritmo ainda lento. Segundo o Monitor do PIB-FGV, o ano começou com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 0,5%. Esse ritmo é quase igual, e até um pouco inferior, à média dos três meses finais de 2020: 0,2% em outubro, 0,8% em novembro e 1% em dezembro. O ministro mencionou também, no seu comentário otimista, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), com aumento de 1,04% sobre o nível de dezembro. Foi o dobro, observou Guedes, do crescimento estimado pelos economistas do mercado. Mas o entusiasmo, também nesse caso, pode ter sido excessivo.
O Monitor, divulgado um dia depois da fala do ministro, é mais detalhado que o índice do BC e coincide com a estimativa de 0,5%. Pelos cálculos da FGV, o PIB de janeiro foi 0,8% menor que o de um ano antes. Além disso, uma queda de 4,1% foi apontada pelos números acumulados em 12 meses. Um recuo de 4,04% havia sido apontado pelo IBC-Br, mas essa é a diferença menos significativa.
Os detalhes do Monitor compõem um cenário mais vivo da evolução dos negócios. Nesse quadro, dois dos três grandes setores cresceram em janeiro sobre a base de dezembro. A agropecuária avançou 0,6% no mês e 1,9% em 12 meses, mantendo-se como o componente mais vigoroso da economia brasileira. Os serviços cresceram 0,9% em janeiro, mas o resultado de 12 meses ainda foi um recuo de 4,5%, explicável. Serviços pessoais foram muito atingidos pelo isolamento, mesmo parcial, das famílias.
Único setor com desempenho negativo no começo do ano, a indústria recuou 0,6%, com perdas nas áreas de transformação (-0,6%) e de construção (-0,7%). A indústria extrativa, com avanço de 1,7%, limitou o recuo geral do setor. Mas os problemas desse conjunto, especialmente da indústria de transformação, começaram a acumular-se antes da recessão de 2015-2016. Uma ampla recuperação do setor envolverá muito mais que a retomada dos níveis de produção anteriores à pandemia.
Embora mostre uma atividade econômica em ritmo ainda moderado no início do ano, o Monitor proporciona poucos elementos para uma avaliação de tendências. Os dados até agora conhecidos apontam um primeiro trimestre com resultados ainda fracos. Os números da indústria automobilística mostram um quadro nada entusiasmante.
As montadoras fabricaram em fevereiro 1,3% menos que em janeiro e 3,5% menos que um ano antes. A produção no bimestre foi 0,2% maior que a de janeiro-fevereiro de 2020, mas a recuperação mal começou. Em 2020 foram produzidos 2,01 milhões de unidades, 931 mil a menos que no ano anterior. O ganho de 805 unidades observado na comparação entre os primeiros bimestres é pouco significativo.
O aperto financeiro das famílias também parece indicar um primeiro trimestre medíocre ou abaixo disso. Sem o auxílio emergencial, suspenso desde janeiro, essas famílias foram forçadas a limitar o consumo. Além disso, seu poder de compra tem sido afetado pela inflação. O auxílio será parcialmente restabelecido, mas os pagamentos só devem começar em abril.
Os últimos dados gerais do emprego, elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cobrem o trimestre final de 2020. Os desocupados nesse período eram 13,9 milhões de pessoas (13,9% da força de trabalho). O quadro geral pouco deve ter mudado, mesmo com os dados positivos do trabalho formal em janeiro.
O alto desemprego certamente continua restringindo o consumo, e as condições do mercado de trabalho pouco deverão mudar sem uma intensificação do crescimento econômico. O reinício do auxílio emergencial é uma das medidas possíveis para isso. Especialmente importante, no conjunto dessas medidas, é o enfrentamento mais firme da pandemia, com vacinação mais ampla e mais veloz e um comprometimento mais claro do governo federal. Pelo menos o ministro da Economia parece ter percebido esse fato.
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