Uma sondagem da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) com o empresariado do varejo na capital paulista mostra que, pelo menos, metade desses negócios (51%) sofreu algum tipo de impacto climático nos últimos 12 meses. Os dados dizem respeito, sobretudo, a pequenos e médios empreendimentos.
Dentre os participantes, 38% disseram que os impactos sentidos foram leves, como atrasos no fornecimento de produtos decorrentes de problemas logísticos. Outros 13%, porém, afirmaram que precisaram interromper as operações parcialmente em razão de eventos relacionados ao clima adverso, resultantes de episódios como alagamentos, ventanias ou o calor excessivo .
Os dados também mostram que pelo menos um terço (35%) dos ouvidos contabilizou prejuízos financeiros causados por eventos climáticos , sendo que 10% afirmaram que as perdas foram grandes.
Segundo a FecomercioSP, são números que sugerem, de certa forma, como uma parcela significativa das empresas ainda não reúne condições de enfrentar os desafios ambientais, os quais tendem a se agravar em um futuro próximo. Muitos desses negócios, vale lembrar, se localizam em áreas mais sujeitas a impactos climáticos — como próximos a rios ou situados em pontos da cidade já conhecidos por alagamentos.
Além disso, boa parte dos empresários pode ter relacionado desafios climáticos à falta de energia elétrica, muito por causa de dois episódios recentes na metrópole: um pertinente, originado de chuvas excedentes e ventos fortes, em novembro do ano passado, que gerou um apagão de mais de uma semana; e outro, não relacionado, envolvendo uma falha na distribuição da concessionária local, a Enel, para a região central de São Paulo, há alguns meses.
Por outro lado, no entanto, é importante observar como boa parte dessas empresas considera que suas operações são resilientes, ainda que não tenham sido expostas a condições severas o suficiente para perceber riscos climáticos. Uma das consequências disso, inclusive, é que a grande maioria das companhias do setor (69,5%) ainda não conta com nenhuma medida para reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) na atmosfera, assim como não definiram metas de redução para o futuro . As demais adotam algum tipo de ação, embora 15% não tenham objetivos pré-determinados.
Na visão da FecomercioSP, isso acontece porque ainda há dificuldades de avaliar o retorno dos investimentos em ações relacionadas a efeitos climáticos, tanto no curto como no longo prazo. Esses negócios apenas espelham um desafio mais estrutural das economias globais.
Mas não é só isso: faltam linhas de crédito especiais para gastos com adoções de tecnologia para redução de emissões, como painéis solares, assim como programas e políticas públicas para incentivar que empresas, sobretudo pequenas e médias, comecem a elaborar um planejamento ambiental adequado ao modelo de negócio. Apesar disso, o número de empreendimentos com alguma medida em operação é relevante, pois sugere que já exista um certo movimento consolidado de tornar o ambiente empresarial mais sustentável.
Dentre as que responderam que têm projetos de mitigação dos impactos climáticos, a imensa maioria (80,3%) indicou a utilização de combustíveis menos poluentes nas frotas, como o etanol ou biodiesel. Para a FecomercioSP, trata-se de uma medida mais simples de se pôr em prática no curto prazo. Chama a atenção ainda a rápida inserção de veículos elétricos no escopo das operações corporativas, de forma que 15% das empresas que disseram contar com alguma ação mencionaram a adoção desse tipo de automóvel.
Quase metade (46%) desses negócios ainda apontou iniciativas relacionadas à destinação correta de resíduos orgânicos (compostagem, por exemplo), o que contribui para a redução da emissão de GEE e ainda promoveu o aumento de áreas verdes em empresas e cidades.
Consciência climática
A despeito de os investimentos ainda estarem abaixo do ideal, os eventos climáticos adversos recentes, sobretudo as chuvas no Rio Grande do Sul, devem surtir ainda mais efeito na forma como os empresários observam a questão climática.
Antes mesmo de as chuvas atingirem o Estado, a maioria deles (54%) disse, no estudo, considerar a questão climática como “muito relevante” para o futuro dos negócios [gráfico 4], independentemente de riscos diretos (chuvas, inundações, secas, calor excessivo etc.) ou indiretos, como regulamentações ambientais ou pressões do mercado.
Não é trivial, assim, que 70% dos empresários do varejo paulistano estejam pensando em investir mais em medidas de redução de emissões de GEE no futuro próximo. Desses, quatro em cada dez (37,5%) se dizem “muito dispostos” a injetar recursos nessas ações. Há uma divisão bastante equilibrada quando questionados a respeito do comportamento dos consumidores: metade (49%) afirma notar uma preferência dos clientes por produtos e/ou serviços associados à sustentabilidade, enquanto a outra metade (50%) ressalta que essa ainda não é uma demanda presente.
Na avaliação da FecomercioSP, com base em outras pesquisas, esses resultados demonstram que, apesar do tema climático ter crescido e fazer mais parte da decisão de compra do que há alguns anos, o fator “preço” ainda pode ser o mais importante na hora de ir às compras. A percepção do empresariado, assim, apenas comprova que há mais preocupação ambiental, mas não a ponto de transformar os padrões decisórios dos consumidores.
Agenda Verde da FecomercioSP
Por meio de seu Conselho de Sustentabilidade, presidido por José Goldemberg ex-secretário de Meio Ambiente e ex-presidente da Eletropaulo, a Federação lançará, em breve, uma Agenda Verde, com o objetivo de contribuir para que o País atinja a posição que pretende ocupar na pauta climática global. O documento contemplará um conjunto de dez objetivos que o Brasil deve considerar nas iniciativas sustentáveis, incluindo pleitos que envolvam a atuação da Entidade. Na visão da FecomercioSP, essas são pautas centrais tanto para consolidar o papel de liderança mundial no debate climático como para começar a apresentar resultados sólidos ao mundo.
A Agenda Verde foca em temas como a transição de uma economia linear, cujas cadeias se baseiam na extração, na transformação e no descarte de produtos para uma economia circular baseada na reutilização e na reintrodução desses materiais nas cadeias produtivas, bem como na transição energética e na regulação do mercado de carbono.
Comentários