18 de setembro, 2024

Notícias

Home » Política » Não olhe para baixo: expectativa sobre as eleições brasileiras de 2022

Não olhe para baixo: expectativa sobre as eleições brasileiras de 2022

POR REDAÇÃO – Bruno Mello Souza e Antonio Silvio K. L. Freitas

Como diria Adam Przeworski, eleições sempre importam, pois elas já fazem parte do nosso cotidiano. Mesmo não gostando de política, o cidadão comum já sabe que, a cada 4 ou 2 anos, haverá alguma disputa eleitoral, principalmente nos países considerados democráticos. Apesar de alertar que nem tudo se resolve com eleições, considera que estas são uma forma “pacífica” de escolha dos seus representantes e, também, uma forma de punição aos governantes cuja atuação seja reprovada. As eleições, portanto, servem, pelo menos em tese, para recompensar governos bem avaliados e expurgar governos mal avaliados pela população.

O Brasil não é diferente das democracias pelo mundo afora. Até mesmo nos períodos de ditaduras tivemos alguma forma de eleição no país, seja direta ou indireta. Logo, aqui, eleições importam bastante e devem ser o centro dos debates e das expectativas da população, que vão desde o barzinho, passando pela calorosa reunião de família, até as polarizadas redes sociais digitais, como a “twittercracia”.

Primeiramente, é importante destacar que, diferentemente do senso comum que muitas vezes é reproduzido nos meios de comunicação de massa e redes sociais digitais, nas Ciências Sociais, em especial na Ciência Política, não existem variáveis fixas para explicar o voto. Variáveis de natureza diversa, como institucionais, econômicas, contextuais, políticas, comunicacionais, culturais etc., podem de alguma maneira impactar ou influenciar nessa decisão.

Na conjuntura atual, diante de um cenário ainda pandêmico, apesar das flexibilizações, seus desdobramentos econômicos podem, de alguma forma, indicar sugestões para a corrida eleitoral que se aproxima. O mundo todo está passando por isso e, no Brasil, a situação não é diferente, apesar de mais intensa. Não está apenas nos dados, mas também é perceptível no cotidiano das pessoas. Então, as dificuldades econômicas vivenciadas pelos brasileiros neste contexto acabam sendo uma variável contextual importante, como já demonstram as pesquisas de opinião pública.

Na teoria, é quase um consenso na literatura que o “voto econômico”é muito importante diante desse cenário e, por isso, entre as principais preocupações do eleitor brasileiro vide pesquisas recentes, estão, dentre outras, a questão do emprego, da renda e da fome. Isto é, de alguma maneira a preocupação central para as eleições de 2022 é o fator econômico.

Tais perguntas, como: A minha vida melhorou nos últimos anos? Quem tem o perfil de liderar essa recuperação econômica?, devem estar na pauta e nas expectativas dos eleitores para o próximo pleito, bem como na agenda dos candidatos e dos seus estrategistas políticos.

Mas, por que corrupção e violência, que foram tão importantes nas eleições de 2018, não impactam como antes?  Para compreender essa mudança, é fundamental que se tenha em mente que naquele período, existia uma outra agenda, na qual o combate à corrupção e o fim da violência eram alimentados não só pelos meios de comunicação, mas também pela discussão dentro das instituições e da própria sociedade. Eram questões “da ordem do dia”. Apesar do discurso de crise, as pessoas não sentiam essa questão econômica tão fortemente no seu dia a dia e, se compararmos, principalmente, a inflação naquele período com o atual, perceberemos essa evidência de forma bem didática.

Dessa forma, o “voto econômico” é uma variável constantemente considerada nos estudos eleitorais, verificando-se uma correlação de desempenho econômico versus desempenho eleitoral, ou seja, fraco desempenho econômico possui grandes chances de desembocar em fraco desempenho eleitoral, ou forte desempenho econômico igualmente possui enormes possibilidades de resultar em forte desempenho eleitoral. Apesar das estratégias de campanha e mídia, além dos fatores contextuais que ainda podem sofrer algumas modificações, pelo que temos até aqui, a pauta econômica será o grande divisor de águas da próxima eleição.

Por isso, temos, de um lado, governistas tentando trazer essa pauta para o centro, para que se tenha um governo minimamente funcional na tentativa de reverter esse quadro extremamente problemático- e com resistências internas e rachaduras- com pouco tempo, enquanto os oposicionistas buscam fazer a crítica desse cenário. Uns procuram não olhar para cima, pois lá no alto encontram-se níveis de grande desemprego, inflação recorde e a fome batendo à porta de milhões de brasileiros. Outros, buscam não olhar para baixo, pois podem perceber que o buraco é mais fundo do que se possa imaginar. Fato, porém, é que a pauta econômica tem tudo para ser decisiva no pleito desse ano.

https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/nao-olhe-para-baixo-expectativa-sobre-as-eleicoes-brasileiras-de-2022/

Comentários