Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Com mais de 860 mil empregos formais liquidados em abril, o Brasil se qualifica sem dificuldade entre os países latino-americanos com pior desempenho econômico na crise da covid-19. Enquanto o vírus se espalha e as mortes se multiplicam, pioram as projeções econômicas para a região. Pioram, além disso, as expectativas para os anos seguintes. Mesmo com alguma recuperação a partir do segundo semestre de 2020, os efeitos da crise global serão persistentes nesses países, segundo avaliação divulgada nesta semana pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla original em inglês), com sede em Washington. Esse órgão é mantido por cerca de cinco centenas de grandes instituições financeiras de todo o mundo, incluídos os maiores bancos brasileiros.
A economia brasileira encolherá 6,9% neste ano, segundo o novo conjunto de projeções do IIF. A estimativa anterior, publicada em abril, indicava contração de 4,1%, mas todos os dados, de acordo com o informe, pioraram a partir daí. Nessa revisão, a perda esperada para a América Latina passou de 4,5% para 7,5%. A epidemia parece menos contida na região, de acordo com o relatório, do que nos países avançados onde o surto foi mais severo.
Há pouco espaço, afirmam os autores do estudo, para estímulos à demanda, e isso dificulta as políticas anticrise. Além disso, o desempenho da maior parte dos latino-americanos já era fraco antes da nova crise. A pandemia, a fuga de capitais e os baixos preços dos produtos básicos, itens muito importantes das exportações latino-americanas, combinam-se na produção de grandes perdas para a economia regional.
O aspecto mais notável da recessão atual, segundo a análise, é a sua velocidade: em um trimestre a perda de produção chegou a cerca de 10%. No caso do Brasil, lembram os autores, a economia se recuperou da recessão de 2015-2016 “de forma lenta e incompleta”, mesmo considerada a hipótese de uma forte redução do potencial de crescimento.
Em alguns países a contração deve ser maior que a do Brasil, de acordo com o IIF. Na Argentina, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) deve diminuir 9,7%. No México, o resultado negativo deve chegar a 8,7%. Até para o Chile, uma das economias mais ajustadas da região, estima-se uma perda, com recuo de 3,8%.
Outras fontes internacionais têm projetado uma severa contração econômica para o Brasil neste ano. Segundo a última estimativa do Banco Mundial, o PIB brasileiro encolherá 5% em 2020. De acordo com o FMI, a contração será de 5,3%. Mas as duas estimativas foram divulgadas na primeira quinzena de abril.
Depois disso, todas as projeções publicadas por entidades nacionais e internacionais ficaram mais sombrias. O governo federal já admite, oficialmente, um PIB 4,7% menor que o de 2019. O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, mencionou recentemente a hipótese de um recuo superior a 5%. No mercado, a mediana das projeções apontou uma perda de 5,89%, segundo a última pesquisa Focus.
Os efeitos econômicos da pandemia no segundo trimestre apenas começam a ser contabilizados. A perda de 860.503 empregos com carteira em abril, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, é uma das primeiras informações numéricas. Esse dado, diferença entre admissões e demissões, é o pior para um mês de abril na série iniciada em 1992. Em abril de 2015, na última recessão, o saldo negativo havia sido de 97.828. Isso equivale a 11,37% das demissões líquidas do mês passado.
Como o começo de 2020 foi menos feio, a perda acumulada em quatro meses ficou em 763.232 empregos. Voltando à recessão: de janeiro a abril de 2016 as vagas formais fechadas foram 378.481, ou 49,58% das liquidadas de janeiro a abril deste ano.
Alguma contribuição positiva para a economia brasileira deve vir, de novo, da agropecuária. O PIB do setor deve crescer 1,3% em 2020, mesmo com algum estresse, calcula o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se o gabinete presidencial se abstiver de atrapalhar, tanto melhor.
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