Por Marcos Hirai
É o paradoxo do Brasil. Na década de 70, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão “Belíndia”, que ficou famosa por, de certa forma, resumir nosso país. Segundo o autor, o Brasil seria uma “Belíndia”, ou seja, uma mistura de Bélgica, nação rica e desenvolvida, com Índia, um exemplo, na época, de subdesenvolvimento e pobreza. Trazendo para a nossa realidade de hoje, de um lado temos visto muitos varejistas alinhados com a realidade mundial, partindo para a integração omnichannel e caminhando cada vez mais para que o digital faça parte relevante do faturamento do seu negócio, marcado por um consumidor transformado pela COVID-19.
Temos porém um outro Brasil, o dos rincões, estimado em 100 milhões de pessoas que estão inscritas no programa de auxílio emergencial do governo federal que lutam para receberem os R$ 600 para manterem sua dignidade e que têm demonstrado dificuldade em usarem um aplicativo para se cadastrarem. São pessoas que sofrem neste momento para se alimentarem, pagarem seu aluguel, remédios, transporte, água, luz, gás… enfim sobreviverem… mas ao final do mês resta a pergunta? Sobra algum dinheiro para as tarifas de internet e do plano do celular?
O adiamento da prova do Enem e as dificuldades que os alunos de escola públicas enfrentam pelo simples fato de não disporem de um computador em casa ou de uma rede wi-fi para acessarem a internet via celular, demonstram a precariedade da infra-estrutura básica de muitos brasileiros para realizarem compras nas plataformas digitais.
Se dentro do “novo normal” o consumidor será cada vez mais digital, como o varejo de periferia venderá para este público? Alguns bairros das grandes cidades brasileiras simplesmente são riscados do mapa por serem “regiões com alto índice de periculosidade” para entregadores de delivery, motoristas de aplicativo e entregadores de mercadorias. A realidade destes empresários ainda é muito diferente dos bairros de classe média e dos clientes mais abastados. Temos um Brasil muito desigual. Nestas localidades, poucas mudanças estão previstas num mundo pós-isolamento social. Com exceção do álcool gel na entrada, do uso de máscaras e do distanciamento entre pessoas, as lojas físicas e o pagamento com dinheiro (ou pelo famoso caderninho do fiado) ainda prevalecerão. Há pouco espaço para inovação.
Por conta da limitação financeira das pessoas, agravada pela crise econômica gerada pela pandemia, alguns aplicativos podem ganhar algum espaço, mas num processo lento, gradual e limitado. Os apps de carteira virtual, compras/atendimento pelo whatsapp e a entrega no bairro diretamente pelo comerciante são os elementos mais omnichannel para este público.
Por sua vez, temos o Brasil-Bélgica que certamente será mais digital. Para esta parcela da população já digitalizada, os aplicativos de delivery, o e-commerce, o varejo autônomo, os meios de pagamentos digitais, os super apps, os streamings, o home-office ultra conectado, aliado com integrações com as redes 5G, com o IoT, big data, data driven marketing, inteligência digital, Data Science, dispositivos de voz e smartphones de última geração em cloud computing…ufa! Quanta diferença!
NOTA: Nesta semana, a Omnibox, startup especializada em varejo autônomo, da qual sou sócio, junto com Marcos Gouvêa de Souza e Cláudia Bittencourt está abrindo, em regime de soft open, sua primeira loja autônoma dentro de um complexo residencial na grande São Paulo. Numa parceria com uma grande rede de hortifruti, traremos uma experiencia de hiperconveniência extremamente inovadora, sem a presença de atendentes nem caixas, 24 horas por dia, 7 dias na semana, oferecendo frutas, verduras e legumes fresquinhos, abastecidos diariamente e com preços incríveis. Tudo gerenciado por um super app e muita tecnologia. Em breve anunciaremos novas parcerias com varejistas de diversos segmentos em todo o Brasil.
* Imagem reprodução
https://www.mercadoeconsumo.com.br/2020/05/27/o-dilema-da-belindia-para-o-varejista-brasileiro/
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