Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que a testagem das urnas utilizadas no primeiro turno comprovou sua lisura. A amostragem foi realizada com 2.044 eleitores de 58 seções que concordaram em ceder suas digitais. Houve 0% de divergência entre os votos digitados e os computados. “Ou seja, no primeiro turno das eleições de 2022 se repetiu o que ocorreu nas eleições de 2020, 2018, 2016, 2014, 2012, 2010, 2008, 2006, 2004 e 2002”, disse o presidente da Corte, Alexandre de Moraes. Outra apuração, a do Tribunal de Contas da União (TCU), concluiu a mesma coisa. Além disso, foi conduzido um terceiro teste, pelos militares, amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como a única garantia de lisura das eleições. Qual a sua conclusão? Não se sabe, pois seus resultados não haviam sido divulgados até ontem, mais de uma semana depois das eleições.
O que todos sabem bem até demais é que Bolsonaro tudo fez e faz para desacreditar o processo eleitoral. Segundo o presidente, as urnas não só seriam fraudáveis, como foram fraudadas em 2018 e 2014. Ele já desperdiçou tempo precioso do Congresso no auge da pandemia com a pauta intempestiva do voto impresso, que foi rejeitado. Depois, passou a afirmar que o TSE fazia sua apuração em uma inexistente “sala secreta”. A dias do primeiro turno, sugeriu que, se não ganhasse com 60% dos votos, seria sinal de fraude. Dias depois da votação, afirmou que ela teve “alguns problemas”, sem dizer, como sempre, quais nem apresentar provas. Ainda na noite das eleições, declarou que aguardaria o tal parecer das Forças Armadas. A população aguarda até hoje.
Vale lembrar que o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, que atuou para dar ares de legitimidade às suspeitas golpistas de Bolsonaro, impediu o acesso da imprensa ao gabinete em que realizou sua contagem paralela. Além de obscura, essa apuração foi espúria: não faz parte das atribuições constitucionais das Forças Armadas fiscalizar eleições. Por fim, a tal fiscalização foi bancada com dinheiro público, razão pela qual é dever de quem a encomendou e realizou divulgar seus resultados.
O Ministério da Defesa não é uma entidade privada que pode ser usada pelo presidente da República para fins particulares. A tentativa escandalosa de Bolsonaro de arrastar as Forças Armadas para a arena política é danosa para os militares e, obviamente, para o País. Mas, já que as Forças Armadas foram envolvidas no imbróglio da fiscalização das urnas, a Defesa tem a obrigação legal de se manifestar, sem delongas nem tergiversações.
Se o relatório tardar ainda mais em aparecer, torna-se lícito supor que a tal fiscalização mostrou que o sistema eleitoral é plenamente confiável, o que contraria a litania golpista de Bolsonaro, e por isso não pode ser divulgada. Mas há ainda uma outra hipótese: a de que os militares, tantos dias depois da votação, ainda não conseguiram concluir o trabalho. Essa possibilidade, no entanto, parece remota, porque não condiz com a imagem de competência que as Forças Armadas construíram para si mesmas.
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