Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
A indignada reação do governo norte-americano à decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de cortar sua produção em 2 milhões de barris por dia sintetiza a extensão dos riscos e dos temores que oscilações nesse mercado tão sensível podem gerar. Nem mesmo economias superpoderosas como a dos Estados Unidos, capazes de determinar a preservação ou a mudança de rumos em diversos segmentos da produção mundial, estão livres de sofrer consequências dessas oscilações, mesmo dispondo de estoques estratégicos volumosos, que decerto serão mobilizados. O que se poderá dizer de países menos poderosos e menos protegidos, como o Brasil?
Assim que a Opep anunciou sua decisão ao final da sua primeira reunião presencial em sua sede em Viena em dois anos, a Casa Branca reagiu acusando a organização de ajudar a Rússia. Principal fornecedora de petróleo e gás da Europa, a Rússia de Vladimir Putin invadiu a Ucrânia em fevereiro, o que provocou uma aguda turbulência no mercado mundial desses produtos, bem como no de alimentos e insumos para a agricultura.
O preço do petróleo chegou a se aproximar de US$ 130 o barril, caiu em seguida para cerca de US$ 82 e tem subido nas últimas semanas. Foi para evitar novas quedas que a Opep decidiu reduzir a oferta do produto. Há cálculos de que, com essa decisão, o preço do barril, que tem ficado pouco acima de US$ 90, alcance US$ 100 no fim do ano. Pressionadas pela alta da inflação, as principais economias do planeta têm endurecido suas políticas monetárias, o que reduziu expressivamente sua possibilidade de crescimento. Nova alta do petróleo realimenta a alta de outros preços.
O presidente Jair Bolsonaro tem comemorado a queda expressiva do preço dos combustíveis nos últimos meses, conseguida por meio de fortes pressões do Palácio do Planalto sobre a diretoria da Petrobras. O barateamento forçado da gasolina, do diesel e do gás de cozinha resultou em deflação e certamente deu forças à campanha de Bolsonaro pela reeleição.
Não à toa, avolumam-se informações de que Bolsonaro voltou a pressionar a diretoria da Petrobras, até com indicações de que pode mudar sua composição, para que haja novas reduções dos preços dos combustíveis antes do segundo turno da eleição presidencial. As recentes altas do petróleo no mercado mundial e, agora, a decisão da Opep, porém, tornam menos provável que a Petrobras, mais uma vez, se renda às pressões do governo. Seus custos oscilam de acordo com as variações do preço mundial do petróleo. Cálculos de instituições privadas indicam que, sem correção desde o início de setembro, o preço da gasolina estava havia dias 9% abaixo da média mundial. Em vez de cair, o preço precisa subir.
É nesse quadro que Bolsonaro dá início à campanha do segundo turno. Pode até conseguir dobrar a diretoria da Petrobras mais uma vez, mas, se conseguir, imporá à empresa, a seus acionistas e ao País perdas que, cedo ou tarde, terão de ser cobertas – provavelmente por muitos contribuintes que nem compram gasolina, pois não têm carro.
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