Por Marcelo Brandão
Na semana quem se comemora o Dia do Consumidor, falar sobre alimentação é um ponto sensível. É fato que se trata de uma questão básica e, independentemente de preferências, todos nós deveríamos realizar nossas refeições de forma digna e saudável.
Por outro lado, é de conhecimento de todos também que, cada vez mais, a alta de preços dos alimentos tem criado desafios enormes para que o brasileiro consiga fazer, se quer, uma refeição decente por dia.
Nesse cenário alguns estão buscando alternativas – e nem sempre as mais saudáveis. Segundo dados da Kantar, os salgados prontos aumentaram em 3% na preferência do cardápio dos brasileiros entre 2019 e 2022.
De acordo com o instituto, desde 2019 as refeições vêm deixando de ser prioridade entre os brasileiros que comem fora de casa. Muito por conta da crise econômica e da inflação dos preços, os snacks, principalmente salgadinhos de pacote e salgados prontos, a exemplo de coxinhas e esfihas, passaram a ser mais consumidos no Brasil.
Dados do Consumer Insights 2022, estudo produzido pela consultoria Kantar, também revelam que os salgados passaram de 11% (2019) para 15% (2022) na preferência dos consumidores na hora das refeições. Enquanto isso, as refeições completas caíram de 7% para 4%, respectivamente.
“A crise está afetando mais o consumidor humilde. Prova disso é que vemos um movimento das pessoas começarem a buscar uma alimentação um pouco mais barata”
As classes D e E são as principais responsáveis pelo aumento do consumo de snacks, seja para matar a fome ou devido aos gastos com as refeições, que aumentaram 35,7% no último ano para esse grupo. Inclusive, é uma alternativa mais buscada pelo público entre 35 e 44 anos de idade (6,8%).
“De forma geral, a crise está afetando mais o consumidor humilde. Prova disso é que vemos um movimento das pessoas começarem a buscar uma alimentação um pouco mais barata, deixando de gastar fora de casa e optando pelas marmitas e lancheiras”, revela Hudson Romano, gerente sênior de Consumo Fora do Lar da Kantar.
É válido destacar também que os snacks vêm crescendo, especialmente, como opção para café da manhã e lanche da tarde – entre 2019 e 2022, 89% do aumento de consumo de salgados ocorreu nestas ocasiões. Enquanto isso, houve uma retração de 61% no mesmo período para refeições no almoço.
Brasileiros deixaram de comprar carne
Uma outra pesquisa, da companhia de benefícios VR, revela que os brasileiros estão deixando de comprar carne. O motivo (pelo menos para alguns): o bolso não acompanha a fome pela carne.
Numa pesquisa da VR em parceria com o Instituto Locomotiva, o estudo afirma que 95% dos brasileiros diminuíram a compra de alguns produtos ou serviços por causa da inflação, e o maior impacto percebido foi na alimentação.
A alta dos alimentos prejudicou o poder de compra e comprometeu grande parte do orçamento dos consumidores. Em meio a dificuldade, muitos passaram a ter de fazer escolhas difíceis no dia a dia.
A carne está menos presentes na mesa de 83% da população
Quando questionados sobre os principais produtos e serviços que os trabalhadores deixaram de comprar, itens como a carne está menos presentes na mesa de 83% da população. A alimentação fora de casa (70%), roupas (57%) e viagens (56%) foram cortados da rotina.
O consumo de leite também foi reduzido por 53% dos trabalhadores. Além disso, consumidores passaram a recorrer a marcas similares e mais baratas (68%) para diminuir o impacto no bolso.
Priscila Abondanza, diretora executiva de Experiência do Cliente da VR, explica que o cenário é desafiador: “O aumento dos preços influencia a decisão de consumo, dificulta a retomada do poder de compra do consumidor e o seu sustento. O contexto atual chama a atenção para a alimentação e reforça a importância de oferecer benefícios para garantir segurança alimentar e qualidade de vida aos trabalhadores.”
Renda familiar não é suficiente e prejudica a alimentação
Mesmo com o verdadeiro malabarismo para equilibrar os gastos, a renda dos trabalhadores não tem acompanhado o custo de vida. O estudo da VR também apurou que para 59% dos consumidores a renda familiar não é suficiente para fechar o mês, e às vezes falta. Apenas para 5% dos ouvidos o montante recebido é mais do que suficiente para fechar as contas.
Com pouco dinheiro circulando, em uma eventual situação de desemprego, 27% dos trabalhadores entrevistados avaliaram que conseguiriam se manter por menos de um mês.
Outro fator apurado pelo estudo é que a gestão financeira não faz parte da realidade dos consumidores. Para 56% é difícil controlar os gastos e 33% não fazem controle de despesas.
https://www.consumidormoderno.com.br/2023/03/14/alimentacao-dos-brasileiros
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