16 de outubro, 2024

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O susto bancário nos Estados Unidos

Por Notas & Informações

A quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank mudou o cenário macroeconômico nos Estados Unidos e no mundo. A pronta reação do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), instituição com função semelhante à do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) brasileiro, do Federal Reserve (Fed) e do Departamento do Tesouro foram importantes para debelar o risco de um colapso no sistema bancário norte-americano. O presidente dos EUA, Joe Biden, contribuiu para conter o pessimismo ao garantir que os clientes terão acesso ao dinheiro que tinham nesses bancos, mesmo que o valor supere o limite de US$ 250 mil a cada depositante. Biden frisou, também, que o rombo não será bancado pelo contribuinte – algo que a história mostra que deve ser interpretado com mais ceticismo.

O SVB era a 16.ª maior instituição financeira dos Estados Unidos e a principal do Vale do Silício, polo de tecnologia norte-americano. Foi o primeiro banco a falir desde a crise financeira de 2008, o que naturalmente assustou os investidores, mas por causas absolutamente distintas. Era conhecido como o banco das startups, um segmento de negócios de alto risco e que foi bastante afetado pelo ciclo de alta das taxas de juros conduzido pelo Fed.

Anunciado na quinta-feira passada, o prejuízo de US$ 2 bilhões derrubou as ações do SBV e levou a uma corrida de saques. No dia seguinte, uma sexta-feira, os reguladores financeiros fecharam o SBV, mas o temor de que a crise tivesse efeitos sistêmicos já havia atingido, também, o Signature Bank, instituição com forte atuação em criptoativos. Milhares de clientes retiraram os recursos que estavam depositados no banco, e já no domingo ele foi fechado pelas autoridades. A maioria dos ativos do Signature Bank não estava segurada, mas os reguladores asseguraram a cobertura do valor integral dos depósitos.

O Fed foi além e anunciou uma linha emergencial para financiar bancos que passem pelo mesmo tipo de problema, com prazo de um ano e condições especiais. Os eventos recentes, no entanto, voltaram a levantar dúvidas sobre a regulação e a supervisão do setor, especialmente de instituições regionais e de médio porte, que possuem requisitos de capital e liquidez mais frouxos. Biden destacou que o sistema é seguro, mas defendeu regras prudenciais mais rígidas para o setor bancário. Desta vez, segundo ele, os membros da administração das instituições não serão poupados, mas demitidos e responsabilizados. A despeito do susto da falência dos bancos, a velocidade com que as autoridades agiram para impedir o contágio foi surpreendentemente exemplar – e, por isso mesmo, preocupante, pois deixa implícita a gravidade da situação.

O fechamento dos bancos trouxe novos elementos a serem analisados pelo mercado e pelo Fed – e, consequentemente, para os bancos centrais no mundo todo. Com os preços ainda bastante pressionados e o desemprego em níveis historicamente baixos nos EUA, o mercado apostava em um aumento mais acentuado na taxa de juros, principalmente depois que o presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou o compromisso em trazer a inflação de volta à meta de 2%. Mas até a inflação passou a ter outro peso nessa conjuntura, e parte dos investidores já acredita que o Fed poderá até dar uma pausa no aperto monetário.

Em tese, isso tenderia a facilitar o trabalho do Banco Central (BC) brasileiro. A instituição já teria que lidar com muitas questões internas, tais como inflação elevada, taxa de desemprego baixa, inadimplência recorde e uma possível crise de crédito de empresas. O cenário internacional, marcado por política monetária mais dura nos Estados Unidos, era um ingrediente a mais a turvar as análises, sobretudo porque havia muitas sinalizações de que o ciclo de alta seria mais longo e que os juros seriam mais altos do que o esperado. As dificuldades do setor bancário norte-americano, no entanto, podem indicar uma recessão nos EUA, o que seria muito ruim para um país como o Brasil, cuja economia está em franca desaceleração e, portanto, ainda há mais pressão sobre o BC.

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