05 de outubro, 2024

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Pequena trégua na batalha dos preços

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Mais aparente do que real, a trégua da inflação em julho reflete a baixa de preços dos combustíveis e da energia elétrica, efeitos temporários da redução de impostos. Graças a isso, a prévia do indicador subiu 0,13%, a menor taxa mensal desde junho de 2020, quando a variação foi de 0,02%. Os combustíveis ficaram 4,88% mais baratos, puxados pela queda de 5,01% do valor final da gasolina, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15). A tarifa da eletricidade para uso residencial diminuiu 4,61%, favorecendo um recuo de 0,78% no item Habitação. Mas houve aumentos em seis dos nove grupos de bens e serviços pesquisados, com mais pressão para os trabalhadores, já atormentados pela escassez de empregos e pelo crédito muito caro.

Para comprar comida e bebida os brasileiros enfrentaram preços 1,16% mais altos, em média. A variação, bem maior que a do mês anterior (0,25%), foi provocada principalmente pelo encarecimento do leite longa vida (22,27%) e dos laticínios. O custo de comer em casa subiu 1,12%. O da alimentação em restaurantes e lanchonetes aumentou 1,27%. Itens muito importantes, como o pão francês (1,47%) e o feijão carioca (4,25%), ficaram bem mais caros, ocupando espaço maior no apertado orçamento familiar.

Com a trégua aparente, criada basicamente por alguns cortes de impostos, a inflação acumulada em 12 meses passou de 12,04% em junho para 11,39% em julho, permanecendo, portanto, muito alta, muito acima das taxas observadas na maior parte do mundo capitalista e muito distante dos objetivos oficiais. Mais uma vez – como no ano passado – a inflação passará bem acima do limite de tolerância fixado pelas autoridades, de 5% em 2022.

Para enfrentar a persistente alta de preços, o Banco Central (BC) deverá manter os juros muito elevados até o fim do ano, passando a reduzi-los cautelosamente em 2023. No fim de 2022 a taxa básica estará em 13,75%, segundo a mediana das projeções indicada no boletim Focus. O mesmo conjunto de estimativas aponta 10,75% como taxa final no próximo ano. Crédito muito caro continuará, portanto, limitando os negócios e a criação de empregos ainda por muitos meses, se essas previsões forem corretas.

Não há, por enquanto, por que apostar num quadro muito diferente. Incerteza e dólar valorizado, importantes fatores inflacionários, continuam presentes no dia a dia e nos cenários prospectivos. Gastos públicos em desordem, resultantes de medidas improvisadas e voltadas para as eleições, devem gerar desafios fiscais complicados para o próximo ano. Também falta conferir se todas as promessas eleitoreiras do presidente Jair Bolsonaro serão incorporadas no projeto orçamentário para 2023 e, em seguida, como os congressistas cuidarão desse projeto.

Se a irresponsabilidade fiscal continuar predominante em Brasília, nos próximos meses, o esforço do BC contra a inflação poderá ser em grande parte inutilizado. A contenção da alta de preços demandará um aperto monetário mais prolongado e mais penoso para a maior parte dos brasileiros.

 

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