07 de dezembro, 2024

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Por excesso de dependência, Brasil é pego de calça curta na guerra, como na pandemia

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

Depois de falar com o russo Vladimir Putin, o francês Emmanuel Macron avisou ao mundo que “o pior está por vir na Ucrânia”. Quem avisa amigo é, e o pior não atinge só a Ucrânia, bombardeada, invadida e ameaçada de extinção, mas também potências e países periféricos. O Brasil não passa ileso.

Os efeitos da guerra em si, e do cerco e das sanções à Rússia, já começam a chegar, não na forma de bombas, tanques e tiros, mas de ameaça ao fornecimento e aos preços de gás, combustível, fertilizantes e trigo. Logo, às famílias, empresas e economia, com mais inflação e juros, menos crescimento e empregos.

Na pandemia de covid-19, o Brasil foi pego de calças curtas pelo excesso da dependência externa de insumos para vacinas e medicamentos, respiradores e equipamentos hospitalares e até máscaras. Há uma década, produzia 55% dos IFAs (Ingredientes Farmacêuticos Ativos) e, agora, 5%. Ou seja, importa 95%.

Na guerra da Rússia contra a Ucrânia, o Brasil está novamente frágil, pelo excesso de dependência de fertilizantes, apesar de ser um dos três maiores produtores agrícolas do mundo, e também de trigo, um dos dois principais alimentos na mesa dos brasileiros, junto com o arroz.

O País importa 85% dos fertilizantes que consome, 1/3 disso da Rússia e de Belarus. Segundo a ministra Tereza Cristina, o problema será na próxima safra, entre agosto e setembro. E propõe: ampliar os fornecedores, com foco no Canadá; facilitar os processos de importação; a Embrapa ensinar como usar menos fertilizantes.

E o Brasil é autossuficiente e até exporta soja e milho, utilizados para a pecuária, mas é dependente do trigo, único grão de consumo estritamente humano, base para pães, macarrão, bolos e biscoitos. Importa 60% do consumo interno, 85% da Argentina, mas a Rússia é o maior exportador no mundo e a Ucrânia está entre os dez maiores produtores. Os preços internacionais dispararam. Bom para a Argentina, ruim para o Brasil.

Ontem, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), ex-embaixador Rubens Barbosa, pediu a Tereza Cristina atenção a dois planos há anos na gaveta do governo. Um, de 2019, é da própria associação e o outro, de 2020, é da Embrapa – estatal –, prevendo produzir trigo no Cerrado. Custaria R$ 3 milhões e acarretaria uma economia de R$ 450 milhões por ano.

O presidente Jair Bolsonaro, aliás, tem uma saída para os fertilizantes: explorar potássio em reservas indígenas. E ataca: “o Brasil foi em parte inviabilizado no passado com a indústria da demarcação das terras indígenas”. Guerra? Que nada! O problema são os indígenas.

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