Para muitos que perderam sua fonte de renda ao longo da pandemia, é como se tivesse sido fechada até o que parecia ser a porta de salvação para assegurar condições mínimas de sobrevivência para si e para familiares. Essa é a imagem que pode permanecer na mente de muitos leitores após a leitura da dramática reportagem publicada no domingo, 19, pelo Estadão sobre a fila de espera para a obtenção de uma vaga de entregador em aplicativos.
O prêmio, para quem tiver a felicidade de ser admitido, pode ser uma remuneração diária de até R$ 40. Se trabalhar seis dias por semana e conseguir manter essa remuneração diária – o que nem sempre ocorre, pois em muitos casos esse é o valor máximo de uma renda muito variável –, no fim do mês terá cerca de R$ 1.040, pouco menos que o salário mínimo em vigor (de R$ 1.045). Mas estará em condições melhores do que as de milhares de outros profissionais que, no período, não terão conseguido obter nenhuma renda.
A procura de emprego nos aplicativos de entrega teve crescimento intenso desde que a pandemia atingiu o País e resultou numa longa fila de espera. Muitos aguardam por meses até ter acesso a uma vaga e ganhar uns trocados que os ajudem a sobreviver.
O fechamento temporário ou definitivo de muitas empresas, por causa da crise sanitária, reduziu o número de empregadores e, consequentemente, de possíveis vagas. Decerto houve, em contrapartida, grande aumento nas compras por meio de aplicativos, em razão do isolamento social, o que fez crescer a demanda de serviços de entrega.
De outro lado, o desemprego crescente mostrado nas estatísticas do IBGE, e que caminha para alcançar números recordes, vem empurrando milhares e milhares de trabalhadores para a informalidade e para a busca de ocupações como a de entregadores de aplicativos. Ainda não se visualiza o fim desse processo.
Mas a capacidade de absorção de mão de obra pelas plataformas de entrega é finita e em várias parece ter se esgotado. Numa dessas plataformas, o iFood, o número de pedidos de emprego chegou a 480 mil de março a junho, um número mais de três vezes maior do que o total de entregadores habilitados em fevereiro (131 mil). Os entregadores passaram para 170 mil em março. Mas a distância entre a oferta e a procura continua imensa, daí a espera atormentadora.
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