Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Seria bom se todos os brasileiros pudessem comemorar sem restrições, como certamente estão fazendo o governo e seu chefe, a nova queda da inflação apontada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA-15 (que afere a variação dos preços no período de 30 dias encerrado no dia 15) de agosto registrou queda de 0,73%, no recuo mais acentuado para o período em toda a série iniciada em 1991. A redução teve entre os principais fatores a queda do preço da gasolina, da conta de luz e das passagens aéreas. Mas o preço da comida continua a subir.
Esse resultado mostra a eficácia das pressões políticas do governo e, particularmente, do presidente Jair Bolsonaro sobre outros entes ligados ao setor público, como a Petrobras e os governos estaduais, para forçar a redução do preço dos combustíveis e da energia elétrica. Esses itens subiam aceleradamente por diversas razões e, por seu peso na composição do IPCA, estavam entre os que mais pressionavam a inflação, cuja alta coloca em risco o projeto de reeleição de Bolsonaro.
No IPCA-15 de agosto, a gasolina ficou 16,86% mais barata – em boa parte pela mudança dos preços internacionais –, o que contribuiu decisivamente para o recuo médio de 5,24% do grupo Transportes. Outro item do grupo Transportes que apresentou forte redução foi o preço da passagem aérea, que recuou 12,22%. Com redução de 3,29%, por causa da redução do ICMS (tributo de natureza estadual), a tarifa de energia elétrica fez o grupo Habitação do IPCA ficar 0,37% mais barato.
Dos preços que mais contribuíram para a queda do IPCA-15 em agosto, apenas o da energia elétrica teve impacto sobre o orçamento da maioria da população. É difícil imaginar como a redução do preço da passagem aérea possa beneficiar a família do trabalhador que mora distante do local de trabalho e precisa se deslocar a pé ou por meio de transporte público. Também a expressiva redução do preço da gasolina deve ter tido pouco impacto no orçamento dessa família.
Dos nove grupos que compõem o IPCA, seis tiveram alta de preço no IPCA-15. Os gastos com Alimentação e Bebida subiram 1,12%. A alimentação no domicílio ficou 1,24% mais cara. Este é um dos principais componentes da inflação das famílias de renda mais baixa. A inflação dessas famílias, por isso, é diferente da inflação de outras classes de renda. As que gastam mais com gasolina e passagem aérea tiveram em agosto variação média de preços menos acentuada do que a enfrentada pelas demais famílias.
A inflação acumulada em 12 meses vem se reduzindo por causa da deflação observada agora, mas o problema está longe de ter sido resolvido. Mesmo as projeções mais otimistas para a inflação em 2022, agora em torno de 6,5%, estão muito acima da meta de 3,5% fixada para este ano. Por isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avalia com cautela a trajetória do IPCA. Ele não vê motivos para celebração e adverte que “ainda há muito trabalho a fazer”.
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