Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
A economia avançou 0,6% em julho, prenunciando talvez um segundo semestre melhor que o primeiro, de acordo com o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), usado como sinalizador de tendência dos negócios. Alguns sinais positivos já haviam aparecido. Ainda em julho as vendas do comércio varejista cresceram 1,2% e o setor de serviços produziu 1,1% mais que no mês anterior. A indústria, no entanto, continuou emperrada, sua produção foi 1,3% menor que a de junho e ficou de novo abaixo do patamar pré-crise, de fevereiro do ano passado. Apesar de alguma melhora, o cenário continuou apresentando áreas de luz e de sombra.
É lenta a recuperação indicada pelo BC. No trimestre móvel encerrado em julho a atividade foi 0,02% inferior à do período fevereiro-abril. Além disso, o crescimento de junho em relação a maio foi revisto de 1,14% para 0,92%. Os dados continuam mostrando uma forte retomada a partir do ano passado, mas a base do confronto – a fase inicial da pandemia – é muito baixa. Por isso, o indicador de julho foi 5,53% superior ao de um ano antes e o dado trimestral superou por 9,44% o de maio-julho de 2020. O avanço acumulado no ano foi 6,60% maior que o de janeiro a julho do ano passado, e o crescimento em 12 meses chegou a 3,26%.
O crescimento mensal do indicador ficou dentro das projeções captadas no mercado pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mas superou a taxa apontada pela maioria dos consultados, 0,40%. Nesta altura, só uma grande surpresa positiva – nos indicadores econômicos e na política – poderia alimentar expectativas mais otimistas. O IBC-Br foi divulgado na manhã de quarta-feira. No dia anterior, instituições de peso haviam confirmado a redução das estimativas de crescimento em 2022.
O Itaú Unibanco baixou de 1,5% para 0,5% a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) projetada para o próximo ano. A consultoria MB Associados cortou sua estimativa de 1,4% para 0,4%. Na XP Investimentos a revisão foi de 1,7% para 1,3%. No Banco BV, de 1,8% para 1,5%. Na segunda-feira o BTG havia reduzido sua previsão de 2,2% para 1,5%.
Comparadas com as mais sombrias, apostas em crescimento superior a 1% em 2022 parecem apontar uma situação quase normal, quase tolerável. Mas um olhar mais amplo ajuda a perceber a enorme deterioração das expectativas. Em um mês, a mediana das projeções do mercado caiu de 2,04% para 1,72%, apontando um desastroso final de mandato para o presidente Jair Bolsonaro.
As estimativas para este ano também têm piorado e já chegaram a 5,04%. Quatro semanas antes ainda estavam em 5,28%. As expectativas para 2021 ainda são próximas de 5%, no entanto, porque se referem à retomada inicial depois de um tombo de 4,1%.
Mas é arriscado falar até de um retorno ao normal. Economistas levam em conta, ao desenhar cenários para 2021, o baixo potencial de crescimento, já conhecido antes da recessão de 2015-2016, e alguns fatores característicos da era Bolsonaro. Desgovernado, o País vive o dia a dia sem planejamento, sem programas e sem rumo, com projetos lançados aqui e ali sem articulação de propósitos, enquanto os ministros se atropelam e o presidente negocia seus interesses com apoiadores famintos por dinheiro público.
O chefe de governo cuida de si e de sua família, ouve os piores conselheiros, escolhe o conflito como estilo de ação, gera tensões, despreza os cuidados com o Tesouro, cria insegurança, desarranja o câmbio e agrava, com sua irresponsabilidade, a incerteza econômica e as pressões inflacionárias.
Sem um Executivo para proteger as contas públicas e transmitir sinais positivos ao mercado, fica para o BC todo o trabalho de cuidar das expectativas e tentar conter a inflação crescente. O BC fará o necessário, tem dito seu presidente, Roberto Campos Neto, para frear a alta dos preços. Diante desse compromisso, analistas do mercado elevam suas projeções de juros e baixam suas estimativas de crescimento, já afetadas pelo desgoverno cada vez mais perigoso e pela irresponsabilidade presidencial.
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