Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Quatro meses de reação, de maio a agosto, foram insuficientes para levar a produção de volta ao nível pré-pandemia, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Conhecido como prévia do PIB, esse indicador é seguido no mercado como um sinalizador mensal de tendência. Em agosto, o IBC-Br continuava 4,19% abaixo do nível de fevereiro, quando foram anotados no País os primeiros casos de covid-19. O índice do mês foi 3,92% inferior ao de agosto do ano passado. O balanço do ano mostrou um resultado 5,44% abaixo do acumulado nos oito meses correspondentes de 2019.
Só o agronegócio, o setor mais competitivo e mais resistente da economia brasileira, atravessou a crise, até agora, com desempenho positivo, apesar dos desarranjos em toda a teia de negócios. O principal motor da economia, o consumo das famílias, voltou a crescer a partir de maio, reanimando o varejo. Em agosto o comércio varejista vendeu 3,40% mais que em julho, atingiu o mais alto patamar desde o ano 2000 e superou por 8,2% o nível de fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora o desemprego, já muito alto no começo do ano, ainda tenha aumentado, medidas de proteção do emprego evitaram um número maior de demissões. A redução combinada de jornadas e salários foi uma dessas medidas. Somado a essas ações, o auxílio emergencial a mais de 65 milhões de beneficiários contribuiu para preservar o poder de consumo das famílias. Com valor diminuído a partir de setembro, o auxílio, em princípio, deve terminar no fim do ano.
Puxada pelo consumo, a produção industrial aumentou 3,2% em agosto, mas sem compensar, depois de quatro meses de alta, a queda de 27% acumulada em março e abril. Faltaram 2,6%. Em oito meses o volume produzido foi 8,6% inferior ao de janeiro-agosto do ano passado.
Além disso, pela 10.ª vez, em agosto a produção foi menor que a de igual mês do ano anterior. Este dado é mais um sinal de uma crise iniciada muito tempo antes do aparecimento, no Brasil, do novo coronavírus. O resultado de agosto foi 18,4% inferior ao pico atingido em maio de 2011.
A recuperação mais fraca tem sido a dos serviços. Começou em junho, um mês depois da reação da indústria e do varejo, e seguiu oscilando. Em agosto o setor cresceu 2,9% em relação a julho, mas ficou 9,8% abaixo do nível de fevereiro e foi 10% inferior ao patamar de um ano antes.
A prestação de serviços foi especialmente afetada pelas medidas de isolamento, muito prejudiciais a restaurantes, bares, hotéis, transportes de passageiros e salões de beleza, para citar só algumas das atividades mais importantes no dia a dia da maior parte das pessoas. É fácil entender a reação – crescimento mensal de 33,3% – dos serviços prestados às famílias em agosto, quando começava a relaxar-se o distanciamento social. A reação mais notável, avanço de 37,9%, veio do segmento de restaurantes, bares e hotéis. O transporte de cargas oscilou menos durante a fase de restrições, porque alguma demanda foi sempre mantida pela indústria, pelo agronegócio e pelos sistemas de distribuição.
A economia atravessa os meses finais de 2020 em condições complicadas. O desemprego chegou a 13,8% da força de trabalho no trimestre de maio a julho. Somando-se os desempregados, subocupados e desalentados, chega-se a cerca de 32 milhões de pessoas em dificuldades.
As condições de trabalho podem melhorar um pouco, se empresários apostarem num fim de ano mais animado. Mas a melhora deve ser limitada e temporária. Enfim, o auxílio emergencial, já reduzido, deve acabar em dezembro, se o Executivo e seus aliados forem incapazes de encaixar essa ajuda, ou algo semelhante, no Orçamento de 2021.
O Executivo deve ainda uma estratégia de sustentação econômica. Um sinal animador é o programa, recém-anunciado pela Caixa Econômica, de ampla oferta de financiamento imobiliário mais acessível. Por seus efeitos sobre outros setores e pelo potencial de geração de empregos, a construção imobiliária pode ser uma alavanca para a economia.
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