Por Fátima El Kadri
Na luta por autonomia, as pessoas com deficiência já tiveram inúmeras conquistas, mas, quando dizemos que ainda há um longo caminho pela frente, não é exagero. A situação relatada a seguir é um bom exemplo do quanto ainda falta para se ter uma sociedade mais acessível e inclusiva.
Há muitas pessoas cegas são ou com baixa visão que são economicamente ativas e, portanto, precisam pagar contas, como qualquer outro cidadão. Esta deveria ser uma tarefa simples — especialmente por conta das tecnologias e recursos de acessibilidade que temos hoje —, mas, por incrível que pareça, essa parcela da população — que abrange em torno de 7 milhões de pessoas no Brasil — ainda é impedida de fazer suas transações bancárias com o mínimo de autonomia, devido ao fato de os sistemas atuais, que foram substituídos por máquinas touchscreen, não serem adequados.
O presidente da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil), Beto Pereira, publicou no site da entidade uma denúncia sobre a falta de acessibilidade nas máquinas digitais dos bancos.
“Esses novos modelos, com telas touchscreen, apresentam design falho e restritivo, que priva as pessoas com deficiência visual de utilizarem o tato, um de seus sentidos mais importantes”, afirma Beto.
Essa falha de design obviamente gera constrangimentos aos cegos, que não conseguem digitar a sua senha bancária e são obrigados a revelar seus dados a estranhos, o que, além de tirar totalmente sua autonomia, acaba expondo os usuários a uma situação de enorme insegurança.
Beto Pereira conta que, desde que recebeu as primeiras denúncias relacionadas à falta de acessibilidade das máquinas, em 2015, a ONCB tem promovido diversas ações, informando e solicitando providências do Conade (Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência) e também da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e participando de reuniões junto aos fabricantes das máquinas para buscar soluções. Foi feita até uma denúncia no Ministério Público, sem resultados.
“Durante cerca de dois anos, a ONCB também promoveu um diálogo propositivo, amplo e constante com a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), que representa 95% dos principais emissores, bandeiras, credenciadoras e processadoras de cartões de crédito, débito, de loja e de benefícios. Porém, em dado momento da construção, a associação deixou de dar retorno e de dialogar, optando por soluções isoladas que têm se mostrado ineficazes. A primeira é uma película tátil que quase nunca é encontrada e que se mostra insuficiente quanto à usabilidade. E a segunda é um aplicativo com erros de conceito e falhas, inclusive na leitura do valor informado à pessoa cega”, afirma Pereira.
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