Com a terceira queda mensal consecutiva em setembro, a inflação em 12 meses medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registra uma notável redução. O recuo de 0,29% em setembro (depois de ter caído 0,68% em julho e 0,36% em agosto) fez a alta em 12 meses ficar em 7,17%. A variação continua muito acima da meta de inflação para 2022 (de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual), mas, se comparada com a alta superior a 10% observada ininterruptamente de setembro do ano passado a julho deste ano, a inflação alta dá a impressão de ter passado.
O exame do comportamento dos preços nos últimos 12 meses dos nove grupos que compõem o IPCA, no entanto, sugere alguma cautela. Nada menos do que seis grupos registraram alta maior, às vezes bem maior, do que a do índice geral.
Os gastos com alimentação e bebida, por exemplo, mesmo com redução de 0,23% em setembro, subiram 11,71% em 12 meses. Os gastos com saúde aumentaram 9,0%, com educação, 7,21%; e com vestuário, 19,16%. Por que, com o brasileiro médio continuando a gastar cada vez mais para comprar a mesma quantidade de bens ou serviços, a inflação parece estar se reduzindo?
O grupo transportes subiu apenas 3,60% em 12 meses e o grupo habitação, 1,64%. Foi a pequena variação desses dois grupos que puxou o IPCA para baixo. E isso foi alcançado por meio de forte pressão do presidente Jair Bolsonaro sobre a Petrobras para reduzir o preço dos combustíveis e de ação do governo federal sobre os governadores para a redução dos impostos estaduais da energia elétrica. O preço dos combustíveis caiu 17,02% em 12 meses e o da energia elétrica residencial, 17,51%.
Se o preço da gasolina tivesse permanecido estável, não teria havido deflação no período julho-setembro. É como se a inflação estivesse sendo contida no grito ou na paulada. Há custos e riscos implícitos nessa forma de conter preços. O corte da tributação estadual sobre energia elétrica e outros itens imporá dificuldades para as finanças estaduais que terão que ser encaradas em algum momento no futuro próximo. A queda forçada do preço dos combustíveis, auxiliada pela redução da cotação internacional do petróleo, tem prazo de validade. Novas altas do petróleo estão sendo previstas, no momento em que os preços internos dos produtos refinados registram defasagem que, segundo alguns cálculos, já chega a 10%.
Não sem razão, o Banco Central vem advertindo que a inflação continua a preocupar. A alta dos juros decidida seguidamente pelo Copom nos últimos meses começa a fazer efeito. Mais pessoas e empresas começam a ter dificuldades para honrar seus compromissos financeiros. Com ofertas generosas de crédito, mais pessoas buscaram empréstimos nas instituições financeiras. Agora, começam a surgir dificuldades para o pagamento das prestações. O volume de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas chegou a 30%, o maior da pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo desde 2010. É sinal de problemas à frente.
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