Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
Manter em 13,75% a taxa básica de juros foi uma importante demonstração de prudência do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), em sua reunião da semana passada. Depois de 12 aumentos seguidos, é tempo de interromper o ajuste e avaliar o efeito dessa política no combate à inflação. A trégua é especialmente bem-vinda, neste momento, quando as grandes economias perdem impulso e cresce o temor de recessão generalizada. Tendo iniciado o aperto com atraso, os bancos centrais do mundo rico avançam agora na elevação dos juros, impondo uma poderosa trava à atividade global. No Brasil, os negócios avançaram com vigor no primeiro semestre e já se observam sinais de alguma acomodação. As condições são propícias, portanto, a uma revisão da estratégia.
Também no varejo há uma sinalização de trégua. A prévia da inflação diminuiu 0,37% em setembro, tendo já recuado 0,73% em agosto. Em 12 meses ficou em 7,96% a alta acumulada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). No mês anterior esse aumento havia chegado a 9,60%. Talvez seja impróprio falar de uma desinflação, porque essa baixa do indicador tem resultado principalmente da redução de impostos indiretos. Uma novidade especialmente animadora, em setembro, foi a queda de 0,47% do item alimentação e bebidas. Em 12 meses, no entanto, o encarecimento desse item bateu em 12,76% – uma evolução muito desfavorável num quadro de empobrecimento de milhões de famílias.
Ao anunciar a interrupção da alta de juros, o Copom mostrou-se triplamente cauteloso. Em primeiro lugar, indicou a “cautela e a necessidade de avaliação, ao longo do tempo”, dos efeitos do aperto já realizado. Em segundo, mostrou prudência ao ressaltar a influência dos preços administrados, como os de combustíveis e telecomunicações, na aparente desinflação. Em terceiro, reafirmou o compromisso com o ajuste até haver sinais claros de inflação perto da meta e de acomodação das expectativas. Além disso, os aumentos de juros serão retomados, segundo a ata da reunião, se os preços voltarem a subir perigosamente.
Na deliberação da semana passada, dois dos nove membros do comitê defenderam “elevação residual” de 0,25 ponto. Esse aumento, argumentaram, serviria para fortalecer a “mensagem de comprometimento” com a estratégia. A mensagem, de toda forma, foi transmitida com clareza. Uma passagem da ata deve eliminar qualquer dúvida: “O comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Como em outras manifestações, o Copom ressalta entre os fatores de preocupação a incerteza sobre a evolução das contas públicas e sobre os efeitos de novos estímulos destinados a fortalecer a demanda. Parte dos estímulos concedidos como jogadas eleitorais afetará as contas em 2023. Isso deveria bastar como advertência para quem assumir a Presidência da República em janeiro. O espaço para bondades na gestão financeira estará em boa parte ocupado antes da cerimônia de posse.
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